James caminhava entre as raízes da grande árvore cristalina.
Elas se entrelaçavam como serpentes ancestrais, e em seus sulcos brilhavam runas que pulsavam em sincronia com o Coração de Myrkanis. O ar estava pesado… não de magia, mas de verdades.
Uma voz sussurrou ao seu redor, múltipla e única.
— "Você ainda não sabe o que carrega."
A luz mudou. A campina dourada escureceu.
James se viu em uma câmara subterrânea. Ecos de vozes antigas o rodeavam, e na frente dele, uma mesa de pedra.
Sobre ela, uma coroa quebrada… e um espelho negro.
— "Olhe," disse a voz.
Ele se aproximou.
No espelho, viu a si mesmo… mais velho. Olhos como fendas de fogo, vestes negras bordadas com sangue, e atrás dele… cidades em ruínas.
— "Esse é o destino do portador do Coração," murmurou a voz. "Todo poder exige um preço. E todo legado… uma escolha."
James afastou o olhar. Mas o espelho mudou.
Agora mostrava um jovem de armadura prateada — seu pai.
James o reconheceu instintivamente. O mesmo olhar, a mesma marca no peito. Ele lutava contra outros magos, protegendo uma mulher — a mesma que ele vira fugindo com ele ainda bebê. Sua mãe.
— "Eles não te abandonaram, James," disse a voz. "Eles te esconderam. Do mundo… e do que você carrega."
As imagens se desvaneceram.
Ele estava de volta à clareira da alma.
Diante dele, duas versões de si mesmo.
Uma, envolta por luz serena, com olhos de compaixão, carregava uma espada e um livro. A outra, envolta em sombras flamejantes, carregava o Coração em chamas como uma arma viva.
— "Você tem potencial para ambos," disse a voz, agora surgindo como a figura da mulher anterior — mas desta vez trajando as cores do oráculo. "O Coração responderá ao que você for. Se escolher o caminho do domínio, poderá destruir seus inimigos… e o mundo junto. Se escolher o caminho da harmonia, poderá guiar Myrkanis. Mas será mais lento. Mais doloroso. Mais humano."
James olhou para os dois futuros diante de si. A raiva ardia em seu peito.
Ele pensou em Eleanor, em Kael, nos nobres que o desprezaram. Pensou na dor, no abandono, na solidão.
Mas também pensou na sua mãe… e no sacrifício que fizera. Pensou em Lady Kaelya, que lhe estendera a mão. Pensou no velho nos vales, que o testara… e não o julgara.
James estendeu a mão.
A figura envolta em luz fechou os olhos. A sombra gritou.
O Coração tremeu em seu peito.
Ele escolheu o equilíbrio.
No exato instante em que tocou a fusão das duas versões, uma explosão de energia o envolveu. Ele gritou, o peito queimando, as runas do Coração se espalhando por sua pele como tatuagens vivas.
A árvore o envolveu com galhos de luz.
A mulher disse, com um último sorriso:
— "Você não será o salvador. Nem o destruidor. Você será a escolha que Myrkanis esqueceu que tinha."
Quando James acordou, estava no topo da Torre de Essência, de joelhos.
O céu da capital surgia à distância.
Ao seu redor, os guardiões o observavam em silêncio. Kaelya também estava ali, e por um instante — apenas um — viu seus olhos se suavizarem.
James ergueu-se com dificuldade.
Mas seus olhos… não eram mais os mesmos.
Agora, Myrkanis olhava de volta.