O céu sobre Vandhros escureceu antes do esperado.
Nuvens pesadas formavam muralhas escuras no horizonte norte, como se o próprio mundo pressentisse o que estava por vir. O salão de estratégia da Guilda Arcana estava repleto — magos veteranos, nobres em armaduras douradas e generais de rosto vincado pelo peso das decisões.
James entrou acompanhado de Lady Kaelya. Os olhares se voltaram, alguns cheios de curiosidade, outros de evidente desdém.
Ele ainda usava as vestes simples dos iniciados, mas não passava despercebido.
Ao fundo, um holograma mágico exibia as terras devastadas da fronteira norte: aldeias queimadas, florestas apodrecidas, trilhas de energia corrompida serpenteando pelo solo. Um nome se repetia nas bocas dos mensageiros que voltavam vivos: Kael Meryon.
— "O usurpador." — um dos conselheiros murmurou.
— "O herdeiro da Casa Meryon nega ser responsável," disse um general idoso. — "Mas os rastros de feitiçaria sombria batem com o padrão de magia que ele utilizava quando servia à Torre Negra."
James não conseguiu conter o enrijecer dos punhos. Aquilo era mais que uma ameaça militar. Era uma ferida pessoal.
— "Ele está reunindo dissidentes. Exilados, bestas de guerra, alquimistas renegados," acrescentou Kaelya. — "E há boatos de que ele despertou algo antigo… algo enterrado sob as Montanhas de Svalmir."
Um murmúrio inquieto se espalhou.
— "E o que isso tem a ver comigo?" — James perguntou, direto, a voz firme apesar do tumulto interior.
Kaelya olhou para ele, séria.
— "Porque Kael Meryon declarou seu retorno com um nome. Um nome que jurou derrubar."
Ela fez um gesto sutil. Uma esfera de cristal flutuou até o centro da sala e reproduziu a imagem de Kael. Seus olhos eram cinzentos como aço, o sorriso afiado como lâmina.
— "Digam a Vandhros… que o bastardo Hunter despertou. E que logo, o coração dele também me pertencerá."
Silêncio.
James sentiu a raiva subir, mas era uma fúria diferente da do passado — uma chama contida, moldada pelo que aprendera na Torre. Ele inspirou, lentamente.
— "Então se ele quer guerra. Que seja."
Kaelya assentiu, mas acrescentou:
— "Isso não é apenas sobre você. Kael está costurando alianças. Ele não luta apenas por vingança, ele quer o Coração. E talvez… algo maior."
Antes que pudessem seguir, outro mensageiro entrou às pressas, ajoelhando-se diante da Lady.
— "Minha Senhora, uma convocação do Conselho Real. A Princesa Seris Altheris exige a presença do novo Desperto… pessoalmente."
James ergueu uma sobrancelha.
— "A Princesa?"
— "Minha prima," respondeu Kaelya. "E conselheira-chefe da Coroa. Se ela quer ver você, não é por simples cortesia."
James sentiu o peso da responsabilidade afundar nos ombros. Do desprezo à convocação real. Do bastardo ao símbolo.
A guerra havia começado — e o próximo passo seria dado diante do trono.