A Arena Vazia não era um lugar comum.
Era um espaço suspenso no plano intermediário, entre o real e o espiritual, invocado por Rhogar por meio de um ritual antigo. Chão de pedra negra, céu sem cor, e uma energia sufocante que deixava tudo mais denso — inclusive o medo.
James e Goram estavam frente a frente, separados por poucos metros. Ao redor, os demais observavam em silêncio: Ylena, Darian, Lysa e Kaelya. Até ela parecia conter a respiração.
— "Primeira regra da Arena," anunciou Rhogar, sua voz ecoando como trovão. "Apenas um elemento pode ser invocado. James, você escolheu o fogo. Goram, a terra."
O chão tremeu sob os pés de Goram. Rachaduras surgiram como raízes, e seu corpo começou a ser envolto por uma couraça rochosa que estalava com cada movimento. Seus olhos brilhavam em âmbar.
James, por outro lado, sentia o calor subir dos pés ao peito. O Coração de Myrkanis vibrava, e a lança de fogo negro surgiu outra vez — mais estável, mais nítida, como uma extensão de sua raiva domada.
— "Lutem até que um caia, ou se renda," disse Rhogar. "Sem mortes. Se puderem."
O sinal foi dado.
Goram investiu como uma avalanche viva. James girou para o lado, tentando manter distância. Era claro que em força bruta, não teria chance.
James lançou a lança em arco — chamas negras cortaram o ar, mas Goram usou o próprio braço rochoso como escudo. A explosão abriu uma fenda no chão, mas ele seguiu firme.
Ele é um monstro, pensou James, recuando. Mas já previra isso.
James estalou os dedos, e novas labaredas surgiram em suas palmas. Desta vez, não como uma arma — mas como armadilhas. Saltou para trás e lançou círculos flamejantes no chão. Quando Goram pisou em um deles, a explosão o desequilibrou.
Foi a brecha.
James girou no ar e, com ambas as mãos, invocou uma muralha de fogo em torno de Goram, prendendo-o.
Mas o guerreiro da terra rugiu. Com um soco, rompeu a barreira de chamas e lançou fragmentos de pedra como projéteis.
Um atingiu o ombro de James.
A dor foi lancinante. O sangue escorreu.
Mas ele não caiu.
Em vez disso, ajoelhou-se. Tocou o chão queimado. A raiva era uma chama, mas agora ele a guiava como uma lâmina. Fez da dor sua bússola.
— "Não me subestime," disse, com a voz rouca. "Não de novo."
Ele ergueu as mãos, e o fogo se concentrou em um único ponto, no centro da arena.
Uma coluna negra se ergueu, ascendente e feroz, como a alma de um dragão libertando-se de séculos em cativeiro.
Goram tentou resistir, mas a força foi demais. A explosão o lançou contra a parede de pedra da Arena, onde caiu de joelhos, arfando.
Rhogar ergueu a mão.
— "Fim do combate!" Ele disse.
O silêncio foi quebrado apenas pelo som da respiração pesada de ambos.
James caiu de joelhos, exausto, mas triunfante.
Kaelya sorriu. Goram, entre tosses, também.
— "Você é mais perigoso do que parece, fogo-negro," disse ele, antes de apagar.
James olhou para as próprias mãos enegrecidas. Ainda tremiam.
Mas pela primeira vez… ele sentia que pertencia àquele lugar.