James abriu novamente os olhos, arfando.
Mas algo estava errado.
Não estava mais no vazio branco, nem cercado de sombras. Agora se encontrava de pé no centro do grande salão da Guilda dos Arcanistas de Vandhros — mas não como lembrava.
As paredes estavam cobertas por tapeçarias negras. Trovões rugiam lá fora. Os olhos de dezenas de aprendizes e magos veteranos o observavam com horror e desdém.
Ele olhou para suas mãos.
Elas estavam manchadas de sangue.
No trono elevado ao fundo do salão, uma figura caída, inerte. Kael Meryon , seu rival, jazido com o peito perfurado. Ao lado dele, Eleanor , ajoelhada e chorando, o olhou como se jamais pudesse perdoá-lo.
— "Você o matou…" — ela sussurrou. — "Você se tornou o monstro que ele dizia que você seria."
James cambaleou para trás.
— "Não… eu… isso não aconteceu."
— "Ainda não," respondeu uma voz atrás dele.
Ele se virou.
Era o James de cabelos grisalhos. Olhos sem brilho, rosto endurecido pelo tempo — uma versão sua que parecia ter sido esculpida pelo ódio.
— "Mas vai acontecer. Porque é isso que você é quando perde o controle. O Coração de Myrkanis não é um presente… é um veneno que queima aquilo que você é, até restar somente poder."
— "Não é verdade…" — respondeu James, recuando.
O salão mudou novamente.
Agora, um vilarejo destruído. Corpos pelo chão. Crianças chorando. E no centro, James — ou uma versão sua — de pé, envolto por chamas negras, olhos sem pupilas, rindo como um deus insano.
A imagem se aproximava. Ele tentou gritar para que parasse... mas a cópia o ignorava.
Um eco mágico soava junto com frases: "Você queria ser lembrado. Agora será temido."
James caiu de joelhos, tambores trovejando em sua mente.
Então apareceu uma nova figura. Uma mulher idosa, vestida como uma sacerdotisa de Altoris, a divindade da sabedoria. Seu olhar era sereno, mas firme.
— "Essa é a sua verdade possível, James Hunter. Não a única… mas a que você pode alimentar se não escolher quem deseja ser."
Ele a encarou, os olhos marejados.
— "E se... eu não sei quem sou?"
Ela se moveu e tocou seu peito.
— "Então aprenda. Mas escolha. Sempre escolha. O Coração de Myrkanis é um espelho. Ele amplifica… o que você esconde de si mesmo."
Com essas palavras, a escuridão começou a desvanecer.
As vozes cessaram.
As imagens arderam em cinzas.
Quando abriu os olhos novamente, James estava no chão de pedra da Sala da Mente , suando e ofegando. Seu corpo ainda tremia, mas a mente… estava mais clara do que nunca.
Ele não derrotou um inimigo. Não com uma espada. Nem com magia.
Mas venceu a si mesmo — ou, pelo menos, uma parte que não queria reconhecer.
Ao seu lado, Rhogar estava de pé, braços cruzados, observando em silêncio.
— "E então?" — murmurou o velho guerreiro dragoniano.
James respirou fundo. Levantou-se, cambaleante, mas de pé.
— "Eu escolho ser… mais do que disseram que eu era."
Rhogar assentiu com um leve sorriso, os olhos avaliando-o com algo próximo de orgulho.
— "Então você passou."
James olhou ao redor e viu que não estava sozinho.
Kaelya Altheris , de longe, o observava.
Mas havia algo diferente em seu olhar agora — menos julgamento, mais reconhecimento.
Talvez… respeito.
Talvez… curiosidade.