O silêncio após o fim da provação foi mais ensurdecedor do que qualquer grito de dor. James cambaleava, apoiado no ombro de Rhogar, com os olhos fixos em algum ponto distante, ainda preso à última memória vivida no Labirinto. A sensação de abandono e traição, mesmo sendo uma ilusão moldada pela Torre, ecoava em seu peito como se fosse real. Como se o sangue ainda estivesse quente, derramado pelas mãos de alguém que um dia amara.
Kaelya o aguardava aos pés da escadaria, os cabelos dourados brilhando sob a luz difusa das chamas arcanas. Quando seus olhos pousaram sobre James, algo neles oscilou — entre alívio e inquietação.
— "Você sobreviveu" — disse ela, a voz baixa, como se tivesse esperado o contrário.
James apenas assentiu. Não havia orgulho ou triunfo em sua expressão. Apenas exaustão. Rhogar passou por ela com um olhar severo, carregando o aprendiz até os aposentos temporários dentro da torre.
Kaelya ficou para trás, os punhos cerrados, sentindo que algo escapava ao seu controle.
Mais tarde, nas câmaras internas, rumores se espalhavam como vento entre folhas secas. Alguns diziam que James havia colapsado dentro do Labirinto, e que apenas foi salvo por intervenção externa. Outros falavam de uma ligação profana entre ele e o artefato no peito — o Coração de Myrkanis — sugerindo que não era um presente, mas uma maldição antiga, talvez um fragmento de alguma entidade esquecida.
— "Um poder desses não deveria estar nas mãos de um bastardo sem nome" — sibilou Lady Veyra Meryon, irmã de Kael e representante de sua Casa na Torre. — I"sso tudo é uma afronta à ordem natural."
— "Ele sobreviveu ao teste do Espírito" — respondeu Kaelya com frieza. — Nenhum de vocês teria suportado o que ele viu.
Mas por dentro, até ela carregava dúvidas. A visão de James desmoronando, gritando com olhos opacos, consumido por uma dor invisível… havia algo quebrado nele. E pior — algo que parecia crescer.
Enquanto isso, James dormia um sono agitado. As imagens do Labirinto ainda dançavam sob suas pálpebras: a mão ensanguentada de sua mãe estendida, a risada cruel de Eleanor, a escuridão engolindo tudo o que ele era. Mas no fundo dessas lembranças, um brilho pálido persistia — a figura da jovem Seris Altheris, sua presença firme mesmo diante da desconfiança. Um fio de esperança. Um elo tênue.
Ao acordar, encontrou uma pequena adaga cravada na madeira ao lado de sua cama, sem que qualquer barreira mágica houvesse sido acionada. Um recado claro: ele estava sendo vigiado. E alguém dentro da Torre desejava vê-lo cair.
Ele pegou a adaga com calma, os olhos mais frios do que deveriam ser.
— Que tentem — murmurou. — Eu não vim até aqui para recuar.
Do lado de fora, a lua cheia banhava Vandhros em luz prateada. Acima das torres, uma sombra movia-se entre os telhados — observando, esperando. O jogo havia começado. E as promessas quebradas de ontem estavam prestes a cobrar seu preço.