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Chapter 27 - Capítulo 26 – Murmúrios nas Pedras Antigas

A Torre de Essência erguia-se sobre as fundações do Velho Mundo — vestígios de uma era anterior a todas as dinastias, anterior à própria Altheris. Poucos sabiam o quão profundas eram suas raízes, e menos ainda ousavam descer aos níveis inferiores, onde os ecos da magia antiga ainda sussurravam por entre as pedras.

James, porém, começou a entender que sua sobrevivência dependia mais do que força ou magia. Era preciso enxergar… além. E rápido.

Na sala de conselho da Torre, Kaelya Altheris mantinha-se ereta como uma lâmina em guarda. Os membros do círculo observavam-na com expressões tão polidas quanto às traiçoeiras. Entre eles, destacaram-se Lady Veyra Meryon, o arquimago Tharun D'Mir — conselheiro silencioso da Casa Vellmont — e o inquisidor Dorian Halstrem, representante do Tribunal Arcano.

— "Vocês viram os registros do segundo teste" — disse Kaelya. — "O rapaz inventou o Labirinto e saiu vivo. Isso deveria bastar."

— "E se o que saiu não for mais o mesmo que entrou?" — retrucou Tharun, os olhos vermelhos como brasas, cravados em Kaelya.

— "O Coração pode estar... moldando-o" — completou Lady Veyra. — "E não sabemos para quê."

Dorian apenas observou. Seus dedos tamborilavam sobre a mesa de obsidiana, atentos às palavras, mas ainda mais ao que não era dito.

— "Talvez devemos devêssemos desclassificá-lo, preventivamente" — sugeriu Veyra. — "Um pequeno escândalo agora sofreu uma tragédia depois."

Kaelya manteve o tom calmo, mas havia gelo em suas palavras.

— "Se James Hunter estiver distante, o povo vai perguntar o motivo. Muitos já o veem como símbolo de superação. Um pária que ousou ascender. Outros... verão soltura em nossa decisão. E os barcos se multiplicam rápido demais em tempos de incerteza."

— "Ainda assim, o Conselho da Torre vigiava seus passos" — sussurrou Tharun, antes de erguer-se com um leve aceno. — "E não hesitará em agir."

Enquanto isso, nos corredores inferiores, James seguia orientações veladas deixadas em um pergaminho misterioso que havia recebido. A tinta era feita com cinza de arcanita — só visível sob uma runa de revelação.

" Busque onde os reflexos não retornam. Onde o silêncio pesa mais do que a água. "

O trajeto levou a uma antiga escadaria em espiral, selada por séculos, cuja entrada foi revelada acidentalmente durante sua última recuperação. Com o Coração de Myrkanis pulsando em inquietação, ele desceu, sentindo que algo o guiava.

Ao final da escada, encontrou a Câmara Submersa.

Um vasto salão inundado até a cintura por águas imobiliárias. As tochas mágicas não projetavam reflexo na superfície. Nem sua imagem foi cirúrgica nela.

Ali, no silêncio absoluto, sentia-se despido da própria alma. Mas também... mais próximas das verdades que a Torre Escondia.

Nas paredes cobertas de limo, antigos murais mostravam figuras semelhantes a ele: portadoras de um brilho no peito. E todos terminavam da mesma forma — consumidos.

James estendeu a mão sobre a água. E, pela primeira vez, ela reagiu — formando ondas que giravam em círculos concêntricos, revelando uma figura nas profundezas.

Uma voz ecoou pela câmara, feminina, rouca, como se vinda de milênios:

— "Você não é o primeiro. Mas pode ser… o último."

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