O silêncio era a única coisa real.
James andava em círculos, mas o chão era o mesmo — um véu branco sem textura. O ar parecia, denso como o vidro prestes a se partir. A cada passo, sua própria respiração ecoava com mais força.
De repente, uma voz infantil ecoou, suave e trêmula:
— "Você disse que voltaria… mas nunca voltou."
James virou-se. Um garoto estava sentado sobre o nada, abraçando os próprios joelhos. Vestia roupas esfarrapadas e tinha olhos parecidos com os dele, mas mais escuros. Olhos que conheciam a solidão.
— "Quem é você?" — James perguntou, embora sentisse que já sabia a resposta.
— "Sou o que você deixou para trás." — "Sua infância. Sua fome. Seus medos", completou a voz do garoto. "Quando chorava e dizia que só queria saber quem era sua mãe."
A dor latejou em seu peito como um soco seco.
— "Isso é um truque", murmurou James, recuando.
— "É a verdade. E é só o começo."
O cenário foi se distorcendo lentamente como vidro derretido.
Agora estava em um campo aberto, durante a noite, cercado por fogo. Pessoas gritavam. Um vilarejo ardia em chamas. No centro do caos, uma mulher — jovem, ferida — protegia uma criança enrolada em panos, correndo entre as sombras.
James observou de longe, os olhos arregalados.
— "Mãe…?" — sussurrou.
A mulher virou-se bruscamente, os olhos cheios de medo. Seu rosto era vagamente familiar. Mas antes que ele pudesse se aproximar, uma figura encapuzada apareceu atrás dela. Um brilho vermelho — uma lâmina atravessou o peito da mulher.
Ela caiu.
Uma criança chorou.
James gritou e correu até ela… mas tudo desapareceu antes que pudesse tocá-la.
Estava de novo no branco.
Sozinho.
— "Essas memórias… são reais?" — Disse para o vazio.
A resposta veio com uma nova ilusão.
Estava ajoelhado em uma floresta — não como adulto, mas como garoto, coberto de lama e lágrimas. Um homem de armadura se afastou, montado em um cavalo escuro. James jovem corria atrás dele, chorando:
— "Pai! Espera! Pai!"
O homem sequer olhou para trás.
James caiu de joelhos, os punhos apertando o nada. Seu coração bateu em descompasso. A dor não era mais mágica, nem física.
Era abandonado.
Solidão.
Vergonha.
As vozes agora vinham de todos os lados — as zombarias da guilda, a risada de Kael, o desprezo de Eleanor.
— "Você é só um bastardo perdido."
— "Fracassado."
— "Um erro que nunca deveria ter existido."
As sombras ao redor dele tomavam forma — todas com seu próprio rosto.
James contra James.
Cada sombra representava um de seus medos: o fracasso, a morte, a insignificância, a raiva.
E eles o atacaram.
Ele lutou, socando, chutando, gritando… mas cada sombra que caiu se erguia novamente. Mais forte. Mais real.
Até que ele tombou, sangrando.
No chão.
E então, no fundo daquele vazio, uma única figura surgiu.
Eleanor.
Vestida com o mesmo traje do baile real, como no dia em que ele a viu pela última vez antes de ser abandonado.
Ela se abaixou ao lado dele, com o olhar frio.
— "Você ainda me ama?"
James não respondeu.
Ela sorriu… e cravou uma adaga em seu peito.
O mundo explodiu em vermelho.