O segundo dia de treinamento começou antes mesmo que o sol tocasse as muralhas de Vandhros.
James sentia cada músculo de seu corpo protestar — não só pela exaustão física, mas pelas reverberações mágicas que ainda dançavam em seu corpo. O Coração pulsava de forma irregular, como se tentasse se ajustar ao ritmo da nova Essência que o cercava.
Rhogar esperava em silêncio no centro do campo de pedra. Seus olhos, sempre meio escondidos sob o capuz, estavam abertos e fixos nos cinco aprendizes.
— "Hoje, não quero ver força. Quero ver o que os move," disse. "A Magia nasce da dor, do desejo… e da verdade. Mostrem-me suas verdades."
Sem mais explicações, ergueu o cajado e o bateu no chão.
Cinco círculos de luz envolveram cada um dos aprendizes, isolando-os em domínios ilusórios. James sentiu o mundo se dissolver ao redor — e então, estava de volta à noite da despedida.
O rosto de Eleanor surgia diante dele, frio, belo, impenetrável.
— "Você nunca será suficiente, James. Nem para mim… nem para este mundo."
Ele tentou falar porém não conseguiu, mas a cena se repetia — como uma maldição. Os sorrisos da guilda, os olhares de desprezo, os risos abafados enquanto era expulso do grupo. Tudo retornava com nitidez cruel.
A dor o queimava. Mas dessa vez… James não recuou.
— "Eu sou suficiente… e vou provar."
Ao redor, as ilusões começaram a tremer. O Coração reagia, absorvendo e transformando a dor em poder. A aura em seu corpo brilhou com tons de violeta e escarlate.
As paredes da ilusão se partiram.
James caiu de joelhos, ofegante, mas consciente. E então viu que não era o único em tormento.
Ylena chorava em silêncio, as mãos sobre os olhos, vendo a imagem de uma irmã morta que não conseguira salvar.Goram, ajoelhado, murmurava palavras em uma língua antiga, diante de um pai severo que o expulsara de sua tribo por não conter sua fúria.Darian… estava em pé, estático, com as mãos sangrando. Diante dele, uma mãe desconhecida cuspia insultos: "Fruto de um erro."E Lysa — a pequena conjuradora que pouco falava — flutuava em sua cúpula, cercada por vozes que a chamavam de aberração, por ver espíritos onde ninguém via.
Rhogar observava tudo, sem interferir.
— "Magia não nasce do orgulho, mas do abismo. Os fracos fogem de suas cicatrizes. Os fortes as transformam em lâminas."
Um a um, os aprendizes romperam suas ilusões, emergindo marcados — mas mais conscientes do que carregavam.
James olhou para os outros e, pela primeira vez, viu neles mais do que companheiros de missão. Eram espelhos de si mesmo, cada um lutando contra fantasmas diferentes.
Rhogar então falou:
— "Agora vocês sangraram. Amanhã… irão queimar."
E os levou de volta ao abrigo, onde, em silêncio, os cinco sentaram em círculo, partilhando pão, silêncio… e a compreensão muda de quem já conheceu o inferno interior.