A escadaria final da Torre de Essência não era feita de pedra ou de ossos com as outras duas pelas quais passara.
Era feita de luz.
Degraus translúcidos, etéreos, se formavam sob os pés de James à medida que ele caminhava. Cada passo parecia mais leve… e mais pesado. Como se o corpo se esvaziasse e a alma se tornasse plena.
Ele não sabia por quanto tempo caminhou. O tempo havia desaparecido — junto ao espaço, à dor, à fome, ao frio.
Tudo o que restava era ele. E o som de seu próprio coração.
Quando chegou ao topo, não encontrou uma sala. Nem um salão. Nem um campo de batalha.
Ele se viu em uma campina dourada, onde o céu era um véu de constelações vivas, e uma única árvore gigantesca se erguia ao centro — feita de cristal e luz, suas raízes mergulhando em um lago tão límpido que parecia um espelho.
Ali, o Coração de Myrkanis queimou mais intensamente do que nunca.
James mais uma vez caiu de joelhos.
— "O que… é este lugar?" — Perguntou.
— "A Alma de Myrkanis." — disse uma voz.
Ele se virou.
Uma mulher o esperava sob a árvore.
Alta, de cabelos brancos como lua cheia, pele de âmbar e olhos multicoloridos — como se carregassem galáxias. Usava vestes antigas, cerimoniais, que pareciam ter sido bordadas por tempo e estrelas.
— "Você cruzou a Porta da Mente," ela disse, com voz serena. — "Mas só os que enfrentam o Espírito são dignos de conhecer a verdade."
James tentou falar… mas não conseguiu.
Ela estendeu a mão. Um toque, e tudo se apagou.
Subitamente, ele era um menino, escondido sob uma escada, chorando silenciosamente enquanto soldados batiam à porta.
Vozes gritavam lá fora. Sua mãe, tentando acalmá-lo. E então… a explosão.
A mesma mulher surgiu, agora vestida como uma guerreira ancestral, cortando os soldados com lâminas de luz. Ela segurava o menino e corria entre sombras.
A cena se partiu.
Agora ele era um homem… mas não ele mesmo.
Usava uma armadura negra adornada com símbolos idênticos aos do cajado do velho que o testara nos vales. Estava diante de um exército em ruínas. Sangue. Cinzas. Magia caótica rugindo entre os céus. Myrkanis… em guerra.
E ele dizia:
— "O Círculo Proibido não deve ser quebrado. Mesmo que isso custe tudo."
A cena sumiu.
James voltou à clareira. Ofegava.
— "O que foi isso…?" — ele sussurrou. — "Essas memórias não são minhas…"
A mulher caminhou até ele.
— "Não ainda. Mas são parte de ti."
Ela tocou o peito dele. O Coração brilhou. E pela primeira vez… James ouviu o sussurro de suas origens.
Nomes antigos. Promessas esquecidas. Um juramento selado antes de seu nascimento.
— "Você não é apenas o herdeiro de um artefato, James," disse ela. — "Você é o último eco de uma linhagem extinta. Do Círculo Proibido, que selou a magia selvagem e pagou o preço com o próprio sangue."
James novamente caiu de joelhos.
As estrelas acima giravam.
Tudo nele tremia — o corpo, o espírito, o próprio nome.
A mulher sorriu com melancolia.
— "Ainda há muito a lembrar. Mas sua alma… resistiu. Uma nova prova virá. E nela, terá que escolher: libertar ou selar o que está adormecido."
— "Quem é você?" — ele conseguiu perguntar.
— "Sou só o que resta do que você será."
E desapareceu em luz.
James acordou aos pés da árvore, sozinho.
A Torre estava em silêncio.
Mas a guerra interior estava apenas começando.