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Chapter 9 - Capítulo 8 – Prova do Corpo: Parte II

James caiu de joelhos mais uma vez.

O sangue escorria por sua testa e se misturava à terra negra. O chão agora era firme, rochoso, coberto por lama e espinhos. O céu estava coberto de nuvens vermelhas, e relâmpagos dançavam ao longe. Ele não teve tempo de respirar.

A Torre de Essência não oferece pausas.

Dessa vez, ele não parecia ser um campo de batalha esquecido — estandartes caídos, armas quebradas, e o cheiro de carne queimada no ar. Havia um silêncio que gritava.

— "Não basta resistir à si mesmo…" — a mesma voz antiga soou. — "Você precisa resistir ao mundo."

James apresentou a cabeça, os olhos ainda turvos. Sentia os músculos rasgados, a respiração pesada, o braço esquerdo inútil. Mas a magia do Coração, embora ainda contida, pulsava devagar, como uma fogueira acendeu a reacender.

Foi então que surgiram.

Dezenas de figuras saíram da névoa — guerreiros sem rosto, feitos de pedra, sombras e armaduras antigas. Cada um empunhava uma arma diferente: machados, lanças, espadas serrilhadas. Não eram ilusões. James sentiu a pressão mágica deles.

— "Não preciso derrotar todos..." — murmurou, rangendo os dentes. — "Só preciso… continuar de pé."

Os inimigos não esperaram. Avançaram como um mar de aço e morte.

James correu. O primeiro golpe veio de cima. Ele rolou por baixo, sentindo a lâmina arrancar parte de seu manto. A dor do acordou. O segundo inimigo tentou perfurá-lo com uma lança. Ele desviou por pouco e quebrou a haste com o cotovelo. Puxou a ponta quebrada e usou como adaga.

Sangue negro jorrou do pescoço do soldado.

Eles sangravam. Isso bastava.

O combate se tornou um caos. James se move entre golpes, usando agilidade, estratégia e o pouco de magia elemental que conseguia canalizar — uma lufada de vento para ganhar espaço, uma estaca de terra para desviar um golpe letal, uma centelha de fogo para acender sua raiva.

Mas eram muitos. Ele caiu mais de uma vez. O corpo já gritava, os pulmões queimavam. A dor se tornou constante, como uma segunda pele.

E então, entre os soldados, ele a viu .

Eleanor Vellmont.

Não era real. Mas seu rosto estava lá, entre os guerreiros inimigos. Frio. Indiferente. E sua voz, como uma faca velha, cortou o coração de James:

— "Você continua fracassando… até aqui."

Ele congelou. O golpe veio, certo. A lâmina atravessou seu flanco esquerdo. Ele caiu, gemendo, a visão turva, o gosto metálico na boca.

A dor era demais.

Ele quase desistiu.

Quase.

Até que surgiu uma lembrança: o rosto de sua mãe, presa em um templo em chamas, pedindo ajuda. E a imagem de Eleanor… abraçando outro homem, rindo, enquanto ele sangrava sozinho.

James gritou como o rugido de uma fera.

Mas dessa vez não era de dor.

Era de puro ódio.

O Coração de Myrkanis explodiu dentro dele — desta vez sem permissão. Um pulso escuro percorreu seus nervos. E por um instante, ele não era mais humano.

Seus olhos brilharam com uma luz azul violácea. Sua pele crepitava com magia crua. Quando se ergueu, os soldados hesitaram.

James avançou como uma fera.

Cada golpe era um trovão. Ele arrancou as armas das mãos inimigas, usou seus próprios corpos contra eles. Cortes, explosões de vento, lâminas de fogo. Hum a hum, eles caíam.

Eleanor desapareceu na nevasca. Não havia mais fantasmas. Só a vontade dele.

Minutos depois, o campo estava em silêncio. Corpos espalhados. A terra tremia.

James ficou ali, de pé, ofegante. Sozinho.

Mas vivo.

A voz ecoou uma última vez:

— "O corpo que suporta a dor… merece aprender o poder."

Uma escada de luz surgiu à frente.

James a encarou por alguns segundos, depois deu o primeiro passo.

A Prova do Corpo estava completa.

Mas a Torre… ainda queria mais.

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