Cherreads

Chapter 7 - Poder e Governança

Leonard Everhart

Algumas semanas atrás

A biblioteca da mansão Everhart era um dos poucos lugares onde eu podia realmente pensar. As prateleiras de carvalho escuro se erguiam até o teto, abarrotadas de livros sobre história, política e estratégia militar. O cheiro das páginas envelhecidas misturava-se com o aroma sutil da cera de vela que iluminava o ambiente.

Mesmo sendo jovem, já entendia que este mundo era implacável. Conhecimento era uma arma tão poderosa quanto qualquer espada, talvez até mais.

Folheei um dos registros históricos que pedi aos criados. As páginas amareladas contavam histórias de reis e nobres que governaram Albion e seus reinos vizinhos. Era sempre a mesma coisa: linhagens reais, sucessões hereditárias e nenhuma menção a eleições ou qualquer tipo de escolha popular. Governar parecia ser um direito inquestionável, passado de pai para filho, sem se importar se o herdeiro era capaz ou não.

Suspirei e fechei o livro.

No meu antigo mundo, o poder também não mudava de mãos facilmente. Não havia presidentes ou eleições. Era uma ditadura, onde o líder permanecia no comando até sua morte ou até ser derrubado à força. Rebeliões eram esmagadas antes mesmo de ganharem força, e quem ousava questionar o sistema desaparecia sem deixar rastros.

Aqui, a monarquia não era muito diferente. Reis fracos e incompetentes podiam continuar governando simplesmente porque tinham nascido na família certa. O povo não tinha voz. Se o governante fosse justo, ótimo. Se não fosse, restava apenas a submissão ou uma revolta que, na maioria das vezes, terminava em banho de sangue.

A porta da biblioteca se abriu, e meu pai entrou. Ele observou os livros espalhados sobre a mesa antes de me encarar com um olhar curioso.

"Parece que anda interessado na história de Albion."

Fechei o livro e encarei meu pai.

"Quero entender como o reino chegou até aqui."

Ele sorriu de leve, puxando uma cadeira e se sentando à minha frente.

"A história é escrita pelos vencedores, Leonard. Nunca se esqueça disso."

Hesitei por um momento antes de perguntar:

"Albion já teve reis fracos?"

Ele arqueou uma sobrancelha, mas respondeu sem hesitação:

"Sim, vários. E todos eles pagaram o preço."

"Mas o povo pode fazer algo sobre isso? Um rei ruim continua sendo rei até que alguém o tire à força."

Meu pai ficou em silêncio por alguns segundos, me observando. Então, um sorriso surgiu em seus lábios.

"O que você acha?"

Me recostei na cadeira, cruzando os braços.

"Acho que um governante precisa merecer seu título. Se não consegue proteger seu povo e tomar decisões sábias, então ele se torna uma ameaça ao próprio reino."

Meu pai assentiu, satisfeito.

"Concordo. Mas lembre-se, poder não é algo que se recebe. É algo que se toma… e se mantém."

Fiquei em silêncio, digerindo suas palavras.

No meu antigo mundo, o poder era absoluto e concentrado nas mãos de poucos. A única maneira de derrubar um governante era através de golpes ou revoluções, mas, na maioria das vezes, o resultado era apenas a troca de um tirano por outro. Aqui, em Albion, a monarquia seguia o mesmo princípio: o poder se mantinha nas mesmas mãos, e o povo pouco podia fazer a respeito. Nenhum dos sistemas era perfeito.

Meu pai se levantou e pousou uma mão firme sobre meu ombro.

"Um dia, você vai entender que governar não é só sentar em um trono. O verdadeiro poder pertence àqueles que sabem usá-lo."

Ele saiu da biblioteca, mas eu continuei ali, imóvel, imerso em pensamentos.

Se eu quisesse mudar alguma coisa neste mundo, primeiro precisaria entender suas regras. Mais do que isso, precisaria descobrir como jogar esse jogo… e, quando chegasse o momento certo, como quebrá-lo.

Tempo atual

O salão resplandecia com o brilho dos candelabros, refletindo nos lustres de cristal e nas joias ostentadas pelos nobres. O cheiro de vinho e perfumes caros impregnava o ar, enquanto a música dos violinos preenchia o ambiente.

Era um mundo diferente do meu.

Apesar da aparência de uma criança, eu via as engrenagens girando. Os sorrisos falsos, as conversas veladas, os interesses escondidos por trás de cada palavra educada.

Encostado na varanda, senti o vento fresco aliviar um pouco o calor do salão. Foi então que a voz de um arauto ecoou pelo ambiente:

"Sua Majestade, o Rei de Albion!"

O salão silenciou instantaneamente.

Me virei a tempo de ver o rei descendo as escadarias com uma postura imponente, sua túnica azul-real destacando-se sob as luzes. A coroa reluzia em sua cabeça, mas seus olhos eram o que mais chamavam atenção: frios, avaliadores, como os de um governante que entendia o peso do poder.

Ao seu lado, um jovem o acompanhava com postura altiva.

"O príncipe herdeiro." murmurou Eleanor Lancaster ao meu lado. "Arthur Albion."

Observei Arthur com atenção. Ele era apenas alguns anos mais velho que eu, mas já carregava uma presença marcante. Movia-se com confiança, como se soubesse exatamente qual era seu papel ali.

Por um breve momento, seus olhos encontraram os meus.

Um lampejo de curiosidade cruzou seu olhar antes de ele seguir adiante, cumprimentando outros nobres.

"Parece que chamou a atenção de alguém importante." Eleanor comentou, sorrindo de lado.

"Parece que sim." respondi, sem desviar os olhos do príncipe.

Eu ainda não sabia muito sobre ele, mas uma coisa era certa: um príncipe precisava ser mais do que um símbolo. Se ele quisesse ser um verdadeiro rei, teria que provar que era digno do trono.

A noite seguiu seu curso. Alguns nobres se aproximaram para trocar palavras triviais, outros me observavam à distância, ainda surpresos com o que aconteceu mais cedo com Edric. Mas para mim, tudo isso já estava ficando cansativo.

Finalmente, o sino soou, anunciando o fim do baile.

Os convidados começaram a se dispersar, as risadas e conversas diminuindo conforme se dirigiam para suas carruagens.

Ao sair, o ar frio da noite me envolveu. Meus pais conversavam com conhecidos próximos à entrada, enquanto eu observava o movimento ao redor.

Vi o duque Ravenshire e Elysia se despedindo de alguns nobres. Eleanor ainda conversava calmamente com outra dama. Edric e seus amigos estavam afastados, carregando o peso da humilhação da noite.

Respirei fundo antes de entrar na carruagem.

As rodas começaram a se mover, o barulho das pedras ecoando contra o silêncio da noite. Meus pais continuavam discutindo os acontecimentos do baile, mas minha mente estava em outro lugar.

Nada naquela noite foi por acaso.

A conversa com meu pai, os olhares avaliadores dos nobres, a presença do rei e do príncipe… Tudo indicava que eu não poderia simplesmente me manter à margem.

Eu já estava dentro desse jogo.

Agora, só restava decidir como jogá-lo.

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