Leonard Everhart
A carroça balançava suavemente enquanto seguíamos pela estrada de pedras. O som das rodas ecoava no silêncio da noite, e eu olhava pela janela, vendo a escuridão se espalhar pelo campo. A luz das estrelas refletia nos riachos e pastos, criando uma paisagem quase mágica. Mas, mesmo com toda aquela tranquilidade, minha mente não conseguia encontrar descanso.
O baile, os nobres, o príncipe Arthur, tudo aquilo parecia tão distante de mim. Eu sentia como se estivesse em um mundo que não era o meu, um lugar onde o poder era passado de geração em geração.
Eu era apenas uma criança, mas sabia que precisaria aprender a navegar nesse sistema. Não poderia me dar ao luxo de ser apenas mais um espectador.
Quando finalmente chegamos à mansão Everhart, o portão se abriu e a carroça parou suavemente. Meus pais desceram primeiro, seguidos por mim. Um criado apareceu rapidamente para oferecer ajuda, mas recusei. Queria entrar por conta própria, sem assistência. Havia algo reconfortante em andar sozinho pelos corredores da mansão, como se finalmente começasse a me sentir mais em casa.
Na manhã seguinte, o campo de treinamento estava gelado, e o ar cortava como uma lâmina. Mesmo antes do sol aparecer completamente, já estava lá, pronto para o próximo desafio. Aldrich me esperava, com sua postura rígida e olhar atento. Ele era sempre tão imutável, mas ao mesmo tempo, carregava consigo uma sabedoria que eu ainda não compreendia.
"Bom dia, jovem mestre." Ele disse, entregando-me a espada de madeira.
"Bom dia." Respondi, já me posicionando. A lâmina parecia um peso nas minhas mãos, mas eu sabia que aquele treino era necessário.
A cada golpe, o suor escorria pela minha testa, mas eu não queria parar. Aldrich observava cada movimento, corrigindo-me com uma calma que quase beirava a impaciência.
"Firme, Leonard." ele ordenou. "O alvo não se vence apenas com força, mas com controle."
Respirei fundo, ajustando a postura. O treino parecia interminável, mas sabia que não podia me dar ao luxo de falhar. Cada movimento estava se tornando mais natural, mais automático.
Quando finalmente fiz uma pausa, olhei para Aldrich.
"Posso perguntar algo?"
Ele me olhou, levantando uma sobrancelha.
"Claro."
"Como você conheceu meu pai?"
Aldrich ficou em silêncio por um momento, como se ponderasse a resposta.
"Sou um Dreemurr. Nossa família não é nobre, mas sempre serviu à família Everhart por gerações. Meu avô serviu ao seu bisavô, meu pai serviu ao seu avô… e agora eu sirvo ao seu pai… e, eventualmente, a você."
Fiquei quieto, refletindo sobre suas palavras.
"Então, sua família sempre foi leal à nossa?"
"Sim." respondeu ele com seriedade. "Não somos muitos, mas nossa lealdade nunca foi questionada. Sua linhagem tem meu respeito. Vejo em você algo grandioso. "
Essas palavras ficaram em minha mente. Grandioso. Eu sabia que, no fundo, ainda não era nada além de um aprendiz. Mas, talvez, com o tempo, pudesse ser algo mais.
Aldrich mudou de assunto, indicando um dos alvos de madeira à frente.
"Agora, Leonard, vamos falar sobre algo essencial: os elementos."
Fogo, Água, Vento e Terra. Eu já havia ouvido falar deles antes, mas não fazia ideia de como funcionavam.
Aldrich observou minha reação, seu olhar penetrante.
"Esses são os quatro elementos que todos os cavaleiros e magos podem controlar. Mas não é algo simples. A chave para manipulá-los é entender a mana dentro de você e moldá-la de acordo com a natureza elemental à qual tem afinidade."
Ele fez uma pausa, me deixando absorver a informação.
"Cada pessoa tende a ter afinidade com um desses elementos, embora algumas raras possam controlar dois. É sobre moldar sua mana, adaptá-la ao elemento com o qual mais se conecta."
Minha mente se acelerou. Afinidade. Eu sempre soube que havia algo mais, algo que eu ainda não havia compreendido totalmente sobre este mundo. Mas agora, parecia que havia uma oportunidade real para aprender.
Aldrich fez um gesto, indicando que eu me posicionasse perto de um dos alvos de madeira.
"Agora, tente sentir sua mana." ele instruiu, cruzando os braços. "Feche os olhos, respire fundo e concentre-se. Imagine a energia fluindo dentro de você."
Fechei os olhos e tentei fazer o que ele disse. Inspirei devagar, tentando sentir algo diferente, algo que indicasse a presença da mana dentro de mim. Mas, por mais que me esforçasse, tudo parecia... vazio.
"Não force. Apenas sinta." Aldrich disse calmamente.
Tentei mais uma vez, focando na ideia do vento, na sensação do ar ao meu redor. Concentrei minha vontade em movê-lo, nem que fosse apenas uma brisa.
Nada aconteceu.
Abri os olhos, frustrado.
"Isso é normal." Aldrich disse, observando-me com atenção. "Ninguém consegue moldar mana de primeira. Alguns passam semanas apenas tentando senti-la."
Eu não gostava da ideia de falhar. Na minha vida passada, a disciplina e o controle eram essenciais. Mas, agora, diante desse novo desafio, percebi que estava lidando com algo que ia além da simples força de vontade.
"Respire. Tente novamente." Aldrich instruiu.
Fechei os olhos mais uma vez. Tentei ignorar a frustração e apenas me concentrar.
Dessa vez, por um breve instante, senti algo como uma leve corrente passando por meu corpo, como um fio invisível de eletricidade percorrendo minhas veias. Mas, antes que pudesse agarrar essa sensação, ela desapareceu.
Aldrich percebeu minha hesitação.
"Isso foi um bom começo. Está lá. Você só precisa aprender a controlá-la."
Suspirei, desapontado comigo mesmo, mas fiz um aceno de cabeça.
"Não tenha pressa, jovem mestre. O controle da mana exige paciência."
Olhei para o alvo destruído pelo corte de vento de Aldrich. Ainda estava longe de alcançar aquilo, mas não desistiria tão fácil.
"Vamos encerrar por hoje." ele disse. "Amanhã, começaremos de novo."
Assenti, sentindo a frustração sendo lentamente substituída por determinação.
Eu ainda não conseguia controlar minha mana. Mas isso era apenas o começo.
Assenti, sentindo a frustração sendo lentamente substituída por determinação.
Eu ainda não conseguia controlar minha mana. Mas isso era apenas o começo.
Enquanto caminhávamos de volta, o vento frio da manhã tocava meu rosto, lembrando-me de quão distante eu estava do verdadeiro poder. Meu corpo estava cansado, os músculos doloridos pelo treino intenso, mas minha mente estava desperta. Eu repetia mentalmente aquela breve sensação de mana percorrendo meu corpo, tentando entendê-la.
No dia seguinte, eu tentaria de novo. E depois disso, mais uma vez. Não importava quantas vezes falhasse, eu continuaria tentando até dominar aquilo completamente.