Leonard Everhart
O som de batidas suaves na porta me despertou. Ainda sonolento, pisquei algumas vezes antes de me levantar e caminhar até a porta.
Meu quarto era espaçoso, com paredes de pedra polida e um grande tapete azul que cobria parte do chão de madeira. Perto da janela, havia uma escrivaninha com alguns livros empilhados, e ao lado da cama, um armário de carvalho escuro. A luz do sol entrava pelas cortinas semiabertas, iluminando suavemente o cômodo.
Ao abrir a porta, encontrei Ella, minha empregada pessoal, com um sorriso educado no rosto.
"Jovem mestre, seus pais me mandaram acordá-lo. Está na hora dos seus estudos gerais", disse ela, mantendo a postura impecável.
Soltei um suspiro interno.
Droga, hoje é dia dos meus estudos gerais…
"Está bem, vou tomar um banho."
Peguei minha toalha e me dirigi ao banheiro. Mas, ao notar que Ella estava me seguindo, franzi a testa.
"Por que você está me seguindo?"
"Estou indo ajudá-lo no banho."
Arregalei os olhos. "Não precisa…"
"Jovem mestre, você ainda é muito novo para tomar banho sozinho."
Revirei os olhos. "Eu posso tomar banho sozinho. Já sou bem grandinho."
Assim que as palavras saíram da minha boca, percebi o que tinha acabado de dizer.
Puta que pariu. Que vergonha! Não acredito que falei isso!
Fechei os olhos por um momento, respirando fundo.
Está tudo bem. Ela me vê como uma criança. Provavelmente vai pensar que foi só um chilique.
Ao terminar meu banho, saí do banheiro e encontrei Ella à minha espera, segurando uma roupa limpa.
Ela me entregou o conjunto: uma camisa branca bem ajustada, com pequenos bordados dourados nas mangas, uma calça preta de tecido fino e uma capa azul-marinho, adornada com o brasão da família Everhart.
"Aqui está sua roupa, jovem mestre.:
Peguei as vestimentas e soltei outro suspiro mental.
É difícil de me acostumar com essa mordomia…
Depois de me vestir, saí do quarto e segui para a biblioteca. Era um dos lugares mais impressionantes da mansão, com estantes tão altas que pareciam tocar o teto, repletas de livros sobre história, política e magia. O cheiro de papel antigo e madeira polida pairava no ar.
Passei os dedos pelas lombadas até encontrar um título que chamou minha atenção: 'Geopolítica de Albion e seu Reino Vizinho'. Peguei o livro e me sentei em uma poltrona próxima à janela.
Ao folhear as primeiras páginas, me deparei com um mapa detalhado de Albion. O reino era vasto, cercado por montanhas ao norte e mares ao sul, o que tornava seu território naturalmente protegido. No entanto, a leste, fazendo fronteira, ficava Morzaar, um reino envolto em mistério e conflitos constantes.
'Albion e Morzaar compartilham uma história de guerras e tratados instáveis. Pequenos confrontos nas regiões fronteiriças são frequentes, e a paz entre os dois reinos nunca foi mais do que um acordo frágil, sustentado pelo medo de um conflito de grande escala.'
Suspirei e fechei os olhos por um instante.
Parece que algumas coisas nunca mudam…
Virei a página e deparei com um capítulo sobre o Desfiladeiro de Grímnir. Uma ilustração mostrava uma enorme fenda serpenteando entre montanhas irregulares. O texto descrevia a região como um território inóspito, cheio de armadilhas naturais e… algo ainda pior.
'O Desfiladeiro de Grímnir é lar de algumas das bestas de mana mais poderosas já registradas. Fênix, Orcs e até dragões adormecidos já foram avistados ali. Muitos que entraram nunca voltaram, e aqueles que conseguiram sair raramente falam sobre o que viram.'
Isso me fez erguer uma sobrancelha.
Dragões adormecidos? Parece exagero… mas se até soldados experientes evitam o lugar, talvez tenha alguma verdade nisso.
Fechei o livro e peguei outro, dessa vez focado em magia.
'Os Fundamentos da Manipulação de Mana'. O livro era antigo, as páginas amareladas e desgastadas pelo tempo. Li as primeiras linhas com curiosidade.
"Todo ser vivo possui um núcleo de mana, mas nem todos conseguem acessá-lo. Aqueles que despertam seu núcleo podem manipular um ou mais dos quatro elementos: fogo, água, vento e terra. A maioria das pessoas manifesta apenas um deles, e aqueles que possuem afinidade com dois já são considerados raros."
Fiquei encarando essa última frase.
Então o normal seria uma única afinidade… e eu acabei despertando os quatro?
Ajeitei-me na poltrona, deixando o livro descansar sobre minhas pernas enquanto absorvia a informação. Se já era incomum alguém dominar dois elementos, o que isso dizia sobre mim?
Não precisei de muito tempo para chegar à resposta óbvia.
Significa que sou uma anomalia.
Um leve sorriso surgiu em meu rosto. Não era algo ruim. Apenas significava que, mais do que nunca, eu precisaria manter isso em segredo e entender melhor essa habilidade antes de chamar atenção desnecessária.
Antes que eu pudesse me aprofundar mais nos estudos, Ella apareceu na porta.
"Jovem mestre, está na hora do almoço. Depois, você pode continuar lendo."
Assenti, fechando o livro e me levantando.
"Estou indo."
Ao chegar à sala de jantar, vi que meus pais já estavam lá. Assim que entrei, ambos se levantaram.
"Pai, mãe, me desculpem pelo atraso", disse, mantendo um tom respeitoso.
Meu pai acenou com a mão, despreocupado.
"Não se preocupe, filho. Desde que não se torne um hábito."
Minha mãe sorriu.
"Bom que esteja se dedicando aos estudos, querido."
Nos sentamos à mesa, e o almoço transcorreu normalmente. Depois que terminamos, tomei um gole de água e decidi não adiar mais minha revelação.
"Pai, mãe, preciso falar com vocês sobre algo."
Eles trocaram olhares antes de minha mãe responder.
"Claro, filho. Pode falar."
Respirei fundo.
"Já descobri qual elemento posso manipular."
Meu pai ergueu uma sobrancelha, animado.
"Que notícia boa! Qual é o elemento? Fogo, talvez? Esse é o meu elemento, sabia?"
Não… não sabia.
Fiz um leve aceno com a cabeça antes de abrir a palma da mão. Pouco a pouco, faíscas de fogo, gotas de água, correntes de vento e pequenos fragmentos de terra surgiram ao mesmo tempo, dançando entre meus dedos.
Minha mãe levou a mão à boca, surpresa. Meu pai me analisou com mais atenção, como se quisesse ter certeza de que via corretamente.
"Que incrível, meu filho!" exclamou minha mãe. "Já estou imaginando o quanto você será famoso na Academia."
Meu pai, por outro lado, cruzou os braços e sorriu.
"Isso é ótimo. Significa que você pode treinar ainda mais."
Minha expressão se contraiu.
"Primeiro… como assim Academia?"
Minha mãe se ajeitou na cadeira, pronta para explicar.
"A Academia de Valmor é um instituto de ensino onde jovens talentosos desenvolvem suas habilidades e aprendem desde estudos básicos até avançados."
Fiquei pensativo.
Se esse lugar existe, pode ser útil para entender melhor como a mana funciona…
Enquanto processava essas informações, só havia uma coisa da qual eu tinha certeza: minha jornada estava apenas começando.