Leonard Everhart
O salão seguia vibrante, a música preenchendo o espaço enquanto casais giravam graciosamente na pista de dança. Nobres conversavam em pequenos grupos, trocando sorrisos falsos e promessas vazias. O brilho dos candelabros refletia nos lustres de cristal, dando ao ambiente um ar ainda mais luxuoso.
Continuei na varanda, o vento fresco trazendo um pouco de alívio. As palavras de Elysia Ravenshire ainda ecoavam em minha mente. Havia algo diferente nela. Ao contrário de Edric e os outros, ela não parecia presa à arrogância do nome que carregava.
Após alguns instantes, decidi voltar para o salão. Assim que entrei, notei meus pais conversando com outro casal nobre. Ao lado deles, vi Elysia, acompanhada por um homem que só poderia ser seu pai. Quando me aproximei, meu pai me chamou.
"Ah, Leonard, venha cá. Quero que conheça o Duque Ravenshire."
O homem se virou para mim. Cabelos grisalhos bem arrumados, olhar afiado. A postura de alguém acostumado a comandar.
"Então, este é o jovem Everhart?" Sua voz era firme, mas sem arrogância. "Sua presença já chama atenção, garoto."
Inclinei levemente a cabeça em respeito.
"É uma honra, Vossa Graça."
Ele me analisou por um momento antes de assentir.
"Ouvi dizer que causou uma forte impressão em alguns jovens esta noite."
Minha mãe sorriu suavemente.
"Leonard apenas se defendeu." Comentou ela, sua voz tranquila.
O duque soltou uma breve risada.
"Assim como um verdadeiro guerreiro deve fazer. A Casa Ravenshire respeita a força, garoto. Vejo que sua presença não é apenas de enfeite, como a de muitos outros filhos de nobres."
Elysia manteve o olhar fixo em mim, como se estudasse cada reação minha.
"Você treina para se tornar um cavaleiro?"
"Sim." Respondi, sem hesitar. "Esse sempre foi meu objetivo."
Ela inclinou a cabeça levemente, parecendo intrigada.
"A maioria dos herdeiros nobres não se importa tanto com treinamento real. Preferem governar de longe, delegando a outros a parte mais difícil do trabalho."
Cruzei os braços.
"A força define quem realmente pode proteger seu território e sua família. De que adianta um título se você não pode defendê-lo?"
Elysia sorriu, como se minha resposta a agradasse.
"Uma visão incomum para alguém da sua idade. Normalmente, só guerreiros veteranos falam assim."
O duque observava nossa conversa com interesse.
"Se sua força acompanhar suas palavras, talvez o futuro nos reserve boas surpresas, jovem Everhart."
"Eu pretendo provar isso com ações, não apenas com palavras."
O duque assentiu, satisfeito.
"Ótima resposta. Elysia, vamos."
Ela lançou-me um último olhar antes de seguir seu pai.
Fiquei parado por um momento, refletindo. Diferente de muitos ali, os Ravenshire pareciam se importar mais com força do que com status. Algo me dizia que aquele não seria nosso último encontro.
Soltei um suspiro e olhei ao redor. O baile ainda estava longe de terminar.
O ambiente continuava tomado por conversas animadas e risadas contidas. Os violinos preenchiam o salão, enquanto casais nobres deslizavam pela pista. Apesar do luxo e da música, eu não me sentia parte daquele mundo. Meu tempo seria melhor aproveitado treinando, mas sabia que esses eventos eram necessários.
Depois da conversa com os Ravenshire, decidi caminhar pelo salão, observando os grupos de nobres. A maioria parecia focada em política, alianças e acordos comerciais. Era um jogo que eu não tinha interesse em jogar da maneira convencional.
Foi então que os vi: Edric, Gareth e Celeste. Estavam afastados, ainda tentando se recompor da humilhação de mais cedo. Edric me olhava de tempos em tempos, seus olhos carregados de ressentimento. Gareth evitava meu olhar, e Celeste mantinha uma expressão fechada.
Não me surpreendia. Nobres como eles não lidavam bem com a derrota, especialmente quando subestimam alguém.
Minha atenção se desviou quando senti alguém se aproximando.
"Você parece entediado, Lorde Everhart."
Virei-me e encontrei uma jovem de cabelos pretos e olhos azul-claros ao meu lado. Ela segurava uma taça de vinho com delicadeza. Seu vestido azul-claro realçava sua presença nobre. Reconheci-a imediatamente.
"Eleanor Lancaster." Murmurei.
Ela sorriu levemente.
"Ah, então já ouviu falar de mim?"
"Seria difícil não ouvir. Os Lancaster têm influência em quase todas as decisões do reino."
Ela riu suavemente.
"Influência é apenas um jogo bem jogado."
Seus olhos se estreitaram ligeiramente.
"E você? Não parece interessado nesse jogo."
Cruzei os braços.
"Meu foco é a força. O resto vem depois."
Eleanor tomou um gole do vinho antes de responder.
"Um pensamento direto e perigoso. Mas talvez seja exatamente por isso que todos estão falando de você esta noite."
Franzir o cenho.
"Todos?"
"Depois da cena com Edric e seus amigos, muitas pessoas ficaram curiosas. Poucos nobres conseguem impor sua presença dessa maneira, muito menos alguém da sua idade."
Eu não me importava com isso, mas algo me dizia que aquele episódio teria consequências.
"E você? Está aqui para testar minha força também?"
Ela sorriu, divertida.
"Não sou tola como Edric. A força bruta tem seu valor, mas o verdadeiro poder está na combinação de força e inteligência. Você pode esmagar um inimigo no campo de batalha, mas pode derrotá-lo sem levantar uma espada se souber como usar as peças certas no tabuleiro."
Estreitei os olhos.
"Você fala como se estivesse sempre planejando algo."
Eleanor deu de ombros.
"Planejar é necessário. Ainda mais quando se vive cercada por lobos."
Antes que eu pudesse responder, um toque alto ecoou pelo salão.
Um arauto real se posicionou no topo da grande escadaria e bateu seu cajado no chão três vezes.
"Sua Majestade, o Rei de Albion!"
O salão inteiro silenciou. Todos os nobres se viraram para a grande escadaria. E então, ele apareceu.
O Rei de Albion descia os degraus lentamente, sua presença imponente dominava o ambiente. Usava uma túnica azul-real e uma capa ornamentada com detalhes dourados. Sua coroa reluzia sob as luzes do salão. Seu olhar varreu a multidão com serenidade.
Atrás dele, a guarda real o acompanhava de perto. Ao seu lado, um jovem um pouco mais velho que eu caminhava com postura altiva.
"O príncipe herdeiro." Murmurou Eleanor ao meu lado. "Arthur Albion."
O rei parou no centro do salão e ergueu a mão. Todos se curvaram em respeito.
"Meus leais súditos, esta noite não é apenas uma celebração da nobreza de Albion, mas também um lembrete da responsabilidade que todos carregamos pelo bem do reino."
Sua voz era firme.
"Cada um de vocês desempenha um papel fundamental. E é através da união que Albion continuará forte."
A plateia aplaudiu respeitosamente.
O príncipe Arthur deu um passo à frente, avaliando os jovens nobres presentes.
"Também estou ansioso para conhecer aqueles que um dia serão pilares deste reino." Disse ele, confiante. "Que esta noite seja uma oportunidade para formarmos laços que fortalecerão Albion."
Seus olhos varreram a multidão, parando em mim por um breve instante.