Leonard Everhart
Poucos dias atrás, minha família recebeu um convite formal para um evento promovido por algumas das casas nobres mais influentes do reino. Uma oportunidade para reforçar laços políticos, fortalecer alianças e, no meu caso, ser apresentado à alta sociedade.
Meus pais consideraram a ocasião importante. Para mim, não passava de uma formalidade entediante.
O castelo onde aconteceria o evento era imenso, uma verdadeira obra-prima da arquitetura real. As torres erguiam-se imponentes contra o céu, e os vitrais coloridos refletiam a luz dos grandes candelabros do salão de baile. O teto alto era adornado por lustres de cristal, cujas velas iluminavam o espaço com um brilho quente e elegante.
Nobres de todos os cantos do reino desfilavam pelo salão, suas roupas luxuosas exibindo riqueza e status. O ambiente era perfumado com essências refinadas, e o som de música clássica preenchia o ar, misturando-se às conversas formais.
Meus pais me trouxeram a este evento para me apresentar às outras famílias nobres. Um passo importante para qualquer herdeiro. Para mim, no entanto, não passava de uma formalidade. Eu preferia mil vezes estar treinando do que socializando com filhos de lordes mimados.
"Leonard, mantenha a postura," sussurrou minha mãe enquanto caminhávamos entre os convidados.
"Sim, mãe."
Meu pai, Lorde Everhart, andava à frente com sua presença imponente. Ele trocava cumprimentos breves com outros nobres, mantendo a compostura impecável que se esperava de um homem de sua posição.
Eu, por outro lado, sentia-me deslocado. Cada olhar que recebia parecia uma avaliação. As outras crianças me analisavam como se tentassem medir minha importância. Algumas tinham expressões curiosas, outras pareciam já ter decidido que eu não valia a pena ser notado.
Foi então que três deles se aproximaram. Um trio de jovens, provavelmente um pouco mais velhos que eu. Eles andavam com confiança exagerada, exibindo uma arrogância que me dizia exatamente o tipo de pessoa que eram.
O líder do grupo, um garoto loiro de olhos afiados, abriu um sorriso de desdém.
"Você é Leonard Everhart, não é?"
Eu o encarei sem demonstrar reação.
"Sim."
"Ah, achei que sim. Eu sou Edric Vanster, herdeiro da Casa Vanster." Ele ergueu o queixo. "Nunca ouvi falar muito sobre sua família. São mesmo importantes?"
Eu sabia exatamente onde ele queria chegar. Não era curiosidade, era uma provocação disfarçada.
"Meu sobrenome responde essa pergunta."
O sorriso de Edric se ampliou, mas notei um leve brilho de irritação em seus olhos.
O segundo garoto, um jovem de porte robusto e expressão orgulhosa, cruzou os braços.
"Eu sou Gareth Belmont. Sabe, Edric, ouvi dizer que os Everhart são apenas cavaleiros glorificados. Nem de longe se comparam às grandes casas do reino."
A terceira do grupo, uma garota de cabelos castanhos bem penteados, sorriu de canto.
"Celeste Morvell," disse ela, lançando-me um olhar avaliador. "Você pode ser um Everhart, mas isso não te torna especial."
Minha paciência começou a se esgotar.
"E vocês acham que são especiais?"
Edric riu.
"Evidente. Somos das casas mais respeitadas do reino. Você deveria mostrar um pouco mais de respeito."
Ele então se aproximou um pouco mais, como se quisesse me intimidar.
"Mas acho que você não aprende só com palavras…"
Seu punho se fechou, e num instante, ele tentou me acertar com um soco direto no rosto.
Foi um erro.
Sem nem pensar, minha aura mudou.
Uma pressão invisível preencheu o ambiente. Meu instinto de combate, minha vontade de vencer, minha sede por força… tudo se condensou naquele momento.
Minha Intenção Assassina emergiu.
Edric congelou no meio do golpe. Seus olhos se arregalaram, sua respiração ficou presa na garganta.
Gareth e Celeste também sentiram o impacto. O medo estampou-se em seus rostos. Era como se um predador invisível houvesse surgido no salão, e eles fossem apenas presas indefesas diante de algo muito maior do que podiam compreender.
O barulho do baile ao redor pareceu sumir. Para eles, só existia aquele momento sufocante.
Então, recuei minha intenção.
Edric tropeçou para trás, quase caindo. Gareth suava frio. Celeste parecia mais pálida do que nunca.
Edric apertou os punhos, tentando recuperar a compostura.
"Tsc… Maldito, você teve sorte."
Esse garoto mimado com certeza morrerá cedo.
Gareth pigarreou, tentando esconder o tremor na voz.
"Você pode ter nos assustado por um instante, mas isso não significa que é melhor que nós."
Celeste, ainda se recompondo, lançou um olhar de desdém.
"Não pense que vai ficar assim."
Eu os encarei por um momento, gravando seus nomes.
O peso do meu nome não vinha de títulos ou heranças. Vinha do caminho que eu estava trilhando.
E cedo ou tarde, eles entenderiam isso.
Conforme me afastava, senti olhares sobre mim. Alguns convidados haviam notado a tensão, mas ninguém parecia disposto a intervir. Meu pai, ainda conversando com outro nobre, lançou-me um olhar breve, avaliando a situação. Minha mãe, por sua vez, manteve-se serena, como se soubesse que algo assim aconteceria.
"Você lidou bem com isso," comentou baixinho quando me aproximei.
"Só me defendi," respondi, ainda sentindo a adrenalina em meu corpo.
"Mesmo assim, foi uma demonstração interessante. Muitos nobres se preocupam apenas com aparências, mas uma presença dominante pode ser uma arma poderosa."
O comentário de minha mãe me fez refletir.
Nobres como Edric, Gareth e Celeste confiavam demais em seus sobrenomes, mas naquela hora, seus títulos não os protegiam.
A única coisa que importou foi a força.
A noite seguiu, e tentei manter a compostura, mas minha mente ainda estava presa ao que acontecera. Saí do salão e fui até uma das varandas, buscando um momento de silêncio. O ar fresco da noite foi um alívio bem-vindo.
Foi então que ouvi passos se aproximando.
"Com licença."
Virei-me e vi uma jovem de cabelos prateados e olhos azul-gelo. Sua postura era impecável, e havia uma aura de nobreza genuína ao seu redor.
"Sou Elysia Ravenshire, herdeira da Casa Ravenshire," disse ela, observando-me com interesse.
"Prazer em conhecê-la. Sou Leonard Everhart." Fiz uma saudação breve.
"Não precisa disso tudo."
"Está bem, então."
Ela sorriu levemente.
"Estou curiosa sobre uma coisa. Você não é como os outros filhos de nobres, é?"
A pergunta me pegou de surpresa.
"E por que diz isso?"
"Eu vi o que aconteceu com Edric e os outros. Você não usou palavras afiadas ou intrigas políticas. Apenas os fez sentir medo."
Eu a encarei em silêncio.
"Isso me deixou curiosa," continuou ela. "Estou ansiosa para ver até onde você chegará, Leonard Everhart."
Elysia então se virou e voltou ao salão, deixando-me sozinho para processar suas palavras.
Na vida passada, banquetes e reuniões entre líderes de exércitos eram comuns. Mas, ao contrário deste salão de baile cheio de rostos arrogantes e vazios, aqueles encontros decidiam o destino de batalhas e impérios. Agora, eu estava cercado por nobres que mediam valor com sobrenomes e não com feitos. Isso me enoja.
Aquela noite ainda me reservava muitas surpresas.