Aquela noite, Michelle mal conseguiu dormir. O encontro inesperado com Helena — a mulher que a trouxe ao mundo, mas também a abandonou — havia deixado sua alma em conflito. E agora, havia uma nova dor: a confusão entre lembranças e revelações.
No dia seguinte, ao caminhar pelas ruas do bairro antigo, Michelle se viu diante do orfanato onde, segundo Helena, teria passado parte da infância. O prédio envelhecido ainda carregava ecos de risos e choros. Com passos hesitantes, ela entrou.
A diretora do local, uma senhora gentil chamada D. Emília, olhou para Michelle com olhos surpresos.
— Você é Michelle Santos... eu me lembro de você, pequena — disse, emocionada.
Michelle arregalou os olhos. Sua memória não guardava nada dali. Aos 17 anos, fora expulsa de casa por uma mãe cansada e amarga, não de um orfanato. Mas algo naquela história parecia se encaixar de forma silenciosa.
D. Emília explicou: Michelle fora deixada ali ainda criança, por um breve período, mas Helena a levou de volta antes que ela completasse 10 anos. A adolescência conturbada e a expulsão de casa haviam ofuscado as lembranças de sua primeira infância.
— Sua mãe te levou de volta... dizia que estava pronta pra recomeçar com você. Mas nem sempre o coração está tão pronto quanto as palavras — disse a diretora.
Michelle saiu de lá com o coração apertado. Talvez a história com Helena tivesse mais nuances do que a mágoa deixava ver. As lembranças do abandono ainda doíam, mas, agora, outra verdade ganhava forma: havia tentativas, mesmo que mal sucedidas, de amor.
E nos laços invisíveis do passado, Michelle começava a encontrar o fio para se reconstruir.