O VENTO frio da noite bateu no rosto de Maxin e causou um contraste com o seu corpo quente, as bochechas estavam coradas e os lábios arfavam. Sua cabeça apoiou-se na parede e os olhos enevoados não foram capazes de desviar da mulher em sua frente.
Fraco, o reflexo entorpecido de Maxin capturou o movimento que ela fez ao afastar uma aba do casaco sobretudo que vestia e segurar um objeto de metal frio. O coração dele errou inúmeras batidas e depois acelerou, bombeando sangue misturado a adrenalina por suas veias finas debaixo de sua pele morna. Uma gota de suor escorreu pela testa de Maxin e debilmente, ele escutou o pronunciamento assustador da pessoa em sua frente:
– É a primeira vez que vou matar alguém em um lugar tão movimentado. Posso ser pega e isso é eletrizante. Sabe, as coisas deveriam ter sido feitas de um jeito calmo, de um jeito planejado de forma meticulosa, mas o seu rosto atrapalhou tudo. Principalmente esses olhos que me deixam fora de mim! – Suspirou e a silhueta dela tremeu na parede atrás de Maxin. – Passei tanto tempo pensando em formas de mata-lo, consumida pelo fogo do meu próprio ódio que agora não consigo entender o que está acontecendo. Que inferno, você é apenas um alvo que tem a porra desses malditos olhos. – Em silêncio, Maxin só podia tremer diante da enxurrada de palavras ditas de forma furiosa.
A mulher que ele, a principio julgou como tímida e desajeitada tocou o seu rosto com uma mão fria, enquanto puxava uma lufada de ar. Quando seu peito parou de subir e descer, a mão dela se ergueu e Maxin arfou ao sentir a frieza do cano da arma em sua testa. A boca dele se abriu e um som baixo escapou de sua garganta.
– E é aqui e agora que essa maldita história se encerra. Adeus, Romanov.
Os olhos de Nox brilharam na lamentável figura de Maxin repletos de intenção assassina. Como um servo encarando os faróis, completamente paralisado, ele esperou seu momento final.
Suas pernas fraquejaram e o som alto do disparou fez sua cabeça doer profundamente.
UM filete de sangue começou a deslizar pela têmpora de Maxin. O impacto de ter sido brutalmente empurrado para o chão o fez bater sua cabeça no piso duro. Abrindo os olhos, o entorpecimento em seu corpo diminuiu alguns graus e ele se encolheu. Tremendo tanto que seus dentes batiam uns contra os outros. Trazendo seus joelhos para o seu peito, as mãos de Maxin cobriram seus ouvidos e suas pálpebras se fecharam. Querendo desesperadamente desaparecer dessa perigosa situação.
– Que porra. – A iluminação do local ainda que seja ruim foi o suficiente para Nox ver o pequeno buraco que o projetil fez na parede onde Maxin estava encostado. Dez centímetros de distância separaram as duas pessoas da vida e da morte.
Virando-se rapidamente e podendo escutar uma respiração pesada há alguns metros de suas costas, Nox não hesitou ao virar-se para a direção de onde o tiro veio. Com a arma apontada para o escuro, seu dedo apertou o gatilho e o revolver disparou algumas vezes.
O baque de algo caindo no chão e suspiros sôfregos começaram a circular pelo beco estreito, seus ombros balançaram e sua figura imponente caminhou até a pessoa que ela acertou. Seu rosto ficou amostra para o homem caído no chão, às sobrancelhas dele estavam fortemente contraídas e sua mão segurava firmemente um celular com o visor ligado. Em uma chamada iniciada há trinta segundos.
– Então é você que está me atrapalhando? Ah... Gastei boa parte do meu tempo planejando isso e você vem e me atrapalha? – Agachada há menos de sessenta centímetros do homem estirado no chão, ela tinha um olhar frio. – Agora me diz: quem é você? Quem te enviou? E por qual motivo você mirou em mim?
– Vai para o inferno! – Ele vociferou, com uma das mãos encharcada de sangue. Nox riu.
– Um dia, quem sabe. Mas não hoje. – Divertidamente, os olhos dela se voltaram para o celular, puxando-o com força dos dedos do homem. A ligação que havia sido encerrada durante o diálogo retornou pouco depois.
O aparelho vibrou na mão dela, a arma de Nox foi deixada ao seu lado, o homem estava tão ferido que não possuía nenhuma força para revidar contra a palma fria que foi colocada em seus lábios. Ele urrou, mas isso não impediu a mulher.
– Ele está morto? Maxin Romanov está morto? – A voz masculina, sutilmente ansiosa foi ouvida no viva voz.
– Ainda é muito cedo para dizer. – A respiração do outro lado da linha falou e Nox manteve seu tom distante. – Mas, eu sei que seu parceiro morrerá em menos de vinte minutos. Leve isso como um aviso, é proibido pegar o alvo de outra pessoa. – Alertou friamente.
– Haha, é só uma vadia que se acha assassina. Escuta aqui, cadela, existem muitas pessoas querendo a cabeça de Maxin Romanov. Você não é nada comparada aos meus homens que logo chegarão para mostrar quem é que manda.
– Que coisa, um porco está tentando colocar merdas no meu ouvido. – Sem temor, Nox proferiu seu recado: – Maxin Romanov é meu! Ele é o meu alvo e só quem pode mata-lo, sou eu. Agora, se me der licença. – Não esperando por uma resposta zombeteira, Nox jogou o celular no chão e se levantou com a arma em mãos.
O som do vidro sendo pisado com força por suas botas não causou nenhuma reação no homem quase sem vida. Erguendo-se como um demônio cercado por sombras e mantendo seus olhos perigosos e assassinos na presa de cabeça baixa e pernas coladas ao seu peito, Nox não teve piedade quando usou uma das mãos para puxar os cabelos escuros e macios de Maxin, forçando-o a ficar em pé e a abrir os olhos e encara-la. A mão magra saiu de sua cabeça e tocou na pele de suas duas bochechas, em sua epiderme macia, ele sentiu os calos finos nas mãos de alguém que segura armas e dispara sem nenhum remorso.
O âmbar de seus olhos tornou-se mais escuro por causa do medo e ele não conseguia falar nada devido a sua garganta apertada. A assassina de Maxin pendeu a cabeça para o lado, examinado sua figura miserável. Os dedos frios seguravam com força suas bochechas e ele balançou a cabeça de um lado para o outro sob seu olhar inquisitivo. A respiração que escapou dos lábios dela, novamente espirrou em seu rosto e ele aspirou o ar morno enviado, sentindo um arrepio percorrer o seu corpo.
Sua assassina tirou as mãos de si e trouxe a arma de volta para perto de seu rosto. Maxin engoliu em seco, com os olhos gradativamente se arregalando e o seu coração parando de bater no peito. O cano do metal se aproximou de sua testa e ele sentiu novamente uma forte dor em sua cabeça.
A mão que não segurava a arma de Nox reflexivamente envolveu o corpo esguio do rapaz, sentindo o calor emanando morno da pele desnuda de sua cintura magra, ela guardou a pistola. Apagado, Maxin não foi capaz de se afastar dos braços que o prenderam firmemente.
Levando-o até o carro, Nox destravou o automóvel de cor escura e afastou uma das mãos do corpo de Maxin, muito próximos, ela sentiu a respiração suave da pessoa com a cabeça deitada em seu ombro. Indo para o porta-malas, acostumada com tal ação, Nox o colocou como se fosse uma sacola de compras, sem nenhuma respiração pesada. Pegando a corda já preparada, ela amarrou os punhos dele em um nó apertado. A franja estava cobrindo seu rosto ternamente adormecido e antes que notasse, seu dedo indicador passeou pela testa e afastou os fios de cabelo.
Seu peito parou por alguns milésimos e depois voltou ao normal assim como sua consciência, Nox de expressão ilegível fechou o porta-malas e caminhou para dentro do carro e suas imagens não foram capturadas pela pequena câmera que fora posicionada em um ponto cego por alguns adolescentes arruaceiros.
O telefone Flip tocou e ela o pegou antes que pudesse dirigir. O nome de Viktor brilhou.
– Nox... Ele já está morto? – Perguntou, cuidadosamente.
– Ainda não.
A frase ficou no ar e Nox desligou sem que pudesse explicar mais detalhes para seu companheiro. Fechando-o e jogando-o em qualquer lugar, uma mão de Nox escorreu por seu cabelo, quase frustrada. Não desejando explorar minimamente os eventos ocorridos, ela ligou o carro e pisou no acelerador.
A assassina deveria estar sozinha. Dirigindo pelas ruas com os ombros leves depois de finalmente ter cumprido sua missão, porém, a realidade era outra, pois a pessoa deitada no porta-malas ainda respirava.
Vivo.
Sim, Maxin Romanov, o alvo que deveria estar morto naquela noite estava vivo e isso assombraria Nox por um longo tempo.