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Chapter 3 - 2: "O garoto com asas"

MAXIN ROMANOV está sobrevivendo e não existe outra definição para a sua vida. Mesmo que tenha sido abandonado pela mãe e ter se tornado a única testemunha do assassinato de seu pai e mesmo que tenha sido vítima de vários abusos enquanto estava no orfanato, ele continua sobrevivendo. Maxin tem sobrevivido por causa de seus instintos.

Os mesmos instintos que o fizeram desmaiar e certificaram-se de apagar a imagem do perpetrador de seu pai de sua cabeça. Ainda que, em algumas vezes no mês, acorde sentindo-se sufocado.

Para Maxin que cresceu sozinho, aprisionando suas emoções, tudo o que importa é a sua sobrevivência e isso revela muito sobre o motivo pelo qual ele está de frente para o espelho de corpo inteiro, usando um traje que mau cobre sua estatura.

Sua franja está bagunçada e seus olhos âmbar estão mergulhados em uma fina camada de líquido cristalino. Seus cílios longos balançam suavemente e há um tom rosado em seus lábios perfeitos.

Suas pernas e peito estão amostras. Ele está usando uma cueca preta que gruda em suas ancas e em suas costas há asas que alcançam um palmo acima do meio de suas costas.

Em sua clavícula proeminente, um colar dourado está brilhando em sua pele levemente amorenada.

– Você é certamente um dos homens mais lindos que já passou por essa boate, V.

A voz carregada de intenções vis veio de uma mulher usando um vestido preto colado. Ela usa saltos de bico fino e tem cabelos negros e lisos caídos em cascatas por suas costas.

– Tão lindo... – A unha pintada de vermelho percorreu a linha de seus ombros e parou em seu peito desnudo. – Espero que me faça ganha muito dinheiro essa noite.

– Sim, senhora. – Ele concordou, com as mãos fechadas em punho. Ignorando esse arrepio desconfortável que serpenteou toda a sua pele.

– O show começará em breve. Não me decepcione.

A mulher plantou um beijo nos lábios de Maxin e desapareceu pela porta. O jovem ficou paralisado no local, ao mesmo tempo em que seu cérebro se encolheu em algum canto, tentando ignorar o profundo nojo que sente por si mesmo.

– Acabei de ver Yev sair daqui. Ela fez algo com você?

Outro jovem entrou na sala, usando uma gravata sob o peito amostra e calça caqui. É Jonathan Miller, exalando sensualidade com sua aparência semelhante à de um deus grego ao se aproximar do amigo com as sobrancelhas grossas e bem feitas juntadas de preocupação.

– Não. Ela apenas me elogiou. – Sua resposta saiu baixa e rígida.

– Você sabe que não é obrigado a fazer isso, não é? – O amigo olhou em seus olhos com uma mão apertando levemente seu ombro, querendo confortá-lo.

– É a única escolha que tenho. Fui demitido da lanchonete e as pessoas não aceitam meu currículo porque não terminei o segundo grau.

Suspirando, os ombros dele tremeram devido a intensa carga emocional aprisionada dentro de seu peito, mas ele não fez nenhuma outra ação além de deixar o ar morno escapar por seus lábios entreabertos. Pegando-o, Maxin jogou esse sentimento para a parte mais profunda de seu ser e ergueu o olhar para Jonathan.

Um semblante que se esforçou ao máximo para esconder sua desordem interior. O amigo se afastou e os olhos cor de uísque se voltaram para o espelho de corpo inteiro.

Ele encarou novamente sua aparência, endireitou a postura e exibiu um sorriso resiliente que não iluminou seu rosto bonito. Não importa o que eu faça, eu preciso apenas estar vivo. Com esse pensamento em mente, Maxin se virou para fora da sala.

Há uma grande movimentação no salão da boate. Muitas pessoas estão ansiosas para o show. As luzes foram diminuídas e somente o palco está iluminado.

O cheiro dentro desse local é uma mistura de suor, perfume forte e bebida amarga.

– Estavam ansiosos? – A voz de Yev está alta no microfone. As pessoas gritaram. – Então, sentem-se e relaxem. Deixem que meus meninos tomem de conta de vocês essa noite!

Jonathan foi o primeiro a aparecer e balançar seu corpo sugestivamente na direção do ar. As pessoas próximas ao palco ficaram eufóricas e algumas começaram a jogar notas. Outros dançarinos também surgiram, cada um com sua própria beleza e conectividade levando o público ao delírio com movimentos envolventes.

 

ENTRETANTO, a mulher escondida na penumbra, com uma taça de vinho em uma de suas mãos, não se abalou. Levando o vidro fino até os lábios e bebericando o gosto agridoce. Sua indiferença, no entanto, acabou alguns minutos depois, quando o objeto de sua obsessão surgiu no palco.

Como um maldito anjo caído com aquelas asas. Seu corpo quase desnudo mexendo-se em um gesto lento, instigante e sensual. Ele está no limite entre a doçura e maldade, carregando consigo uma energia densa que envolve e aprisiona todos que se atrevem a encará-lo.

E aquela mulher quase se rendeu ao perigoso encanto de Maxin Romanov, sendo hipnotizada pelo seu rebolar e com os olhos seguindo as gotas de suor que escorriam por seu abdômen liso que brilhava por causa da forte iluminação em cima de si.

– O show acabou e Maxin está se aproximando do balcão. Quando você estiver com ele, eu passarei com os copos. – A voz de Viktor saiu do telefone Flip.

– O que estou sentindo é algo indescritível. – Ela murmurou intrigada.

– Deve ser alegria. Afinal hoje o grande dia. O dia em que você matará Maxin Romanov.

NOX andou até o bar com uma alta e extensa prateleira repleta de garrafas de diversos tipos de bebidas alcóolicas. Aproximando-se do balcão, sua presença não passou despercebida.

Vestindo preto e com uma aura gélida ao seu redor. Com o nome, sugere Nox é como a noite. Fria e silenciosa, cheia de mistérios e cercada de perigos. Ela é alguém que facilmente te deixaria desconfortável somente com um olhar.

As pessoas no balcão se afastam quando a mulher se apoia na madeira lisa e escura. Uma rápida busca com os olhos e ela encontra Maxin Romanov. Estranhamente, isolado.

Uma descarga de adrenalina está percorrendo o corpo dela, semelhante à mesma sensação de quando matou pela primeira vez. Ela não entende o que está acontecendo e enquanto move-se até Maxin, o pensamento de recuar é aceso em seu cérebro e a assassina quase o ouviu, dando um passo para trás.

Mas, ela não teve tempo fazer outro movimento, porque a figura se projetou em sua frente. Sua íris brilhante por causa da fina humidade em seus olhos encararam Nox com uma intensidade desconcertante, sem entender, ela engoliu em seco, surpreendida. A mulher desejou poder costurar sua boca logo depois de seu ditado, minimamente estranho:

– Sabia que a AK47 é uma das armas mais letais do mundo? E também a mais vendida?

A confusão torceu o rosto de Maxin e os ombros de Nox rapidamente ficaram tensos, provocando uma dor surda em suas omoplatas.

Isso não saiu como o esperado. Que merda. Nox manteve uma expressão estranha, enquanto viajava suas pupilas para qualquer lugar além do garoto estupefato em sua frente.

Passaram-se segundos de puro desconforto quando uma risada baixa e suava alcançou os ouvidos de Nox que deixaram de dar atenção para o som ensurdecedor de música alta e vozes barulhentas da boate para focar no som feito por ele e seus olhos encaram os lábios rosados esticados em um sorriso. Um sorriso que iluminou completamente o rosto dele e a deixou parcialmente cega. O peito de Nox vibrou quando escutou a voz dele.

– Normalmente, dizem: Você é lindo, quero tanto me casar com você e coisas do tipo. É a primeira vez que alguém me aborda de uma forma tão diferenciada.

– Ah... – Acordando do transe, Nox recomeçou, tentando recuperar sua tranquilidade habitual. – Eu posso te pagar uma bebida? Se você quiser, é claro. – A mão direita dela tocou a própria nuca, parecendo muito desajeitada para o garoto em sua frente.

– Vamos. – Ele se decidiu.

Com a confirmação de Maxin, o espírito assassino de Nox pareceu ressurgir novamente, enviando um choque elétrico por seu corpo que a obrigou recuperar seus sentidos e a lembrança de seu proposito para aquela noite, assim, como se estivesse ressurgindo, Nox deu um sorriso e disse para a si mesma que o plano não foi totalmente arruinado.

Ao se virarem para o balcão, Viktor apareceu com um uniforme de barman. Aproximando-se com uma bandeja de alumínio contendo vários copos uma bebida azulada.

– Gostariam? – Polidamente, ele indagou e encarou especificamente Maxin.

– Sim, claro... Você também quer? – A assassina tomou a frente e pegou um copo. Sob o olhar atento do barman, Maxin se sentiu persuadido a aceitar também.

Uma parte de sua consciência o avisou claramente ciente do fato da maioria das bebidas presentes na boate serem adulteradas. Mas, ele expulsou esse alerta e esticou a mão para segurar o copo de plástico escolhido pelo barman.

Seus olhos encararam a bebida por meio segundo, antes de um suspiro baixo escapar de seus lábios e sob os olhos atentos das duas pessoas, ele bebeu boa parte do conteúdo desconhecido. Sentindo corpo leve, Maxin enviou um olhar para Nox que parecia beber sua bebida.

Viktor saiu e distribuiu outros copos para manter seu disfarce.

Cinco minutos inteiros se passaram até que ele começasse a sentir sua cabeça a girar e a franqueza em seu corpo se intensificar ao ponto de suas pernas ficarem moles. O copo de plástico caiu no chão e ninguém prestou atenção, o líquido respingou em seus sapatos e sua mão encostou-se ao ombro de Nox, os dedos apertando a pele enrijecida para se firmarem.

– Você... – O chiado baixo e rouco escapou dos lábios.

– É realmente indescritível, o que estou sentindo agora. – Enlaçando o braço na cintura dele, Nox sussurrou perto de seu rosto. A respiração com cheiro de menta bateu nas bochechas de Maxin. – Se você soubesse há quanto tempo tenho esperado por esse momento...

– Q-quem... Você... – Fracamente, ele tentou se desvencilhar do corpo alto da mulher e de seu braço forte. Sem sucesso e com a vista ficando embaçada, Maxin foi arrastado pelo corredor que leva para o beco aos fundos da boate.

Suas asas foram arrancadas e suas costas bateram na parede fria. Sob uma má iluminação, ele viu os olhos brilharem friamente e escutou a voz intimidadora:

– Nós temos contas para resolver, certo? Senhor Romanov.

Fazendo-o arregalar os olhos.

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