Renji despertou com uma sensação de peso nos ombros. O corpo parecia mais exausto do que dolorido, como se tivesse dormido por dias. Seus olhos entreabriram, e ele percebeu que estava sendo carregado. Toru e Yui seguravam seus braços, o arrastando escada acima.
"Onde estamos?" murmurou, tentando se situar.
"Lembra da escadaria onde os goblins apareceram?" respondeu Toru.
Renji piscou algumas vezes, sua mente ainda confusa. "Sim... acho que sim."
"Estamos subindo por ela. Você desmaiou depois da luta contra o Rei Goblin, então decidimos te carregar."
"Não havia outra saída?" Renji franziu a testa. "Podemos estar indo direto para um ninho deles."
"Eu vasculhei os arredores com os meus goblins," afirmou Toru. "Não havia outra rota além dessa."
Renji suspirou, aceitando a situação. "Certo... podem me soltar agora. Eu ando sozinho."
Assim que seus pés firmaram nos degraus, ele se endireitou, alongando o pescoço enquanto analisava o ambiente. O corredor era estreito, feito de tijolos escuros e irregulares, como se fosse parte de uma antiga ruína. As escadas de pedra pareciam gastas pelo tempo, e tochas presas às paredes lançavam sombras pelo caminho.
Arisa estava na frente, com o arco em mãos, atenta a qualquer sinal de perigo. Yui e Toru caminhavam logo atrás, enquanto ele ainda estava alguns degraus abaixo.
"Há quanto tempo estamos subindo?" perguntou Renji, quebrando o silêncio.
"Pelo menos uns dez minutos," respondeu Arisa sem desviar os olhos do caminho.
Foi então que Yui olhou para ele, com uma expressão hesitante. "Renji... Eu não queria te incomodar, mas... como você sobreviveu àquilo?"
"Você fala sobre quando aquele goblin cortou minha garganta e esmagou meu rosto?"
Yui assentiu, Toru e Arisa pararam momentaneamente, lançando olhares atentos para a conversa.
Renji levou uma mão à cabeça, tentando organizar suas memórias. "Eu não me lembro completamente... mas vi algo. Foi como um sonho."
"..."
"Era um castelo... um castelo completamente branco. O chão, as paredes... tudo era feito de uma pedra imaculada."
Ele fechou os olhos por um momento, buscando a imagem em sua mente. "E havia um trono. Enorme. Gigantesco. Como se tivesse sido feito para uma criatura colossal."
"Qual era o tamanho desse trono?" perguntou Yui, sua voz carregada de curiosidade.
"Eu não sei ao certo... mas era pelo menos dez vezes maior que eu."
Todos ficaram em silêncio por um instante, absorvendo a informação.
"Então... o que aconteceu depois?" Yui insistiu.
"Antes que eu pudesse entender o que era aquele lugar, o sistema apitou. Disse que eu estava em uma ‘área perigosa’ e então... despertei minha habilidade. No instante seguinte, voltei à vida."
"Então você foi teleportado?" Yui franziu a testa.
Toru cruzou os braços, pensativo.
"Nem mesmo diante do Rei Goblin o sistema apitou assim. Onde diabos você estava, Renji?"
Antes que pudessem continuar a conversa, Arisa os interrompeu.
"Olhem!"
No topo da escadaria, uma luz brilhava. O fim do corredor.
"Finalmente!" exclamou Toru, avançando sem hesitação.
"Ei, seu idiota!" gritou Arisa, correndo atrás dele.
Renji e Yui se entreolharam e dispararam logo atrás, sem querer ficar para trás.
Assim que saíram da escadaria, foram recebidos por uma rajada de vento fresco. Renji estreitou os olhos para a luz do sol e viu diante de si um vasto vale cercado por montanhas imponentes. Abaixo, uma densa floresta se estendia, cortada por um rio cristalino que serpenteava pelo terreno.
A saída da escadaria era um portal de pedra, esculpido de forma rudimentar.
Toru respirou fundo e abriu os braços. "Ah, finalmente eu saí daquele bueiro!"
Arisa, sem perder tempo, o acertou com um golpe nas costas.
"Seu imbecil, se tivesse uma armadilha na saída, você já estaria morto."
"Ah, me mama piranha." resmungou Toru, massageando as costas.
Renji ignorou a discussão e caminhou até uma pequena tabuleta de pedra ao lado do portal. Ele chamou a atenção dos outros e leu as inscrições gravadas nela.
"Bem-vindo ao Nível 1 – O Vale dos Dragões."
"Dragões? Isso existe mesmo por aqui?" perguntou Toru, arregalando os olhos.
"Ainda não voltamos ao mundo normal..." murmurou Yui.
Foi então que Arisa apontou para o céu.
Renji levantou a cabeça e seu coração quase parou.
Criaturas enormes planavam sobre o vale. Lagartos alados, com escamas que variavam entre tons de vermelho e verde. Suas asas cortavam o vento, e suas presas brilhavam à luz do sol.
"Hahaha! Mal posso esperar para ter um desses!" exclamou Toru, fascinado.
Arisa o cortou na hora. "Nem pense nisso."
"O quê? Por quê?"
"Não temos como lutar contra essas coisas. Já tivemos dificuldades contra goblins. Imagine contra esses monstros que podem voar?"
"Arisa está certa," interveio Renji. "Além disso, temos que lembrar que Yui ainda não despertou. Se entrarmos em combate, ela pode se machucar."
Yui corou. "N-Não precisa se preocupar comigo..."
"Vamos descer as montanhas e seguir pela floresta," sugeriu Arisa. "Essas coisas são grandes demais para nos seguirem lá embaixo."
"Ah, que saco." resmungou Toru.
○
O grupo seguiu pela floresta, avançando sob a proteção das árvores para evitar serem notados.
"Isso parece não ter fim." comentou Yui.
"Duvido muito que vá ter." respondeu Toru, de braços cruzados.
"Não seja tão pessimista assim! Você está me deixando ansiosa."
"Você viu o que estava escrito na tabuleta, não viu? Isso aqui é só o começo."
"Ah, não fala assim..."
Arisa olhou para Renji, que parecia perdido em pensamentos.
"O que você tanto pensa?"
Ele desviou o olhar para ela. "Sobrevivam. Evoluam. Ou pereçam. Você lembra dessas palavras?"
Arisa piscou, surpresa. "Sim... foi o que ouvimos ao entrar aqui."
Toru e Yui também confirmaram.
"Você tem alguma teoria sobre isso?" perguntou Arisa.
"Um chefe, sistemas de nível, experiência... o próprio conceito do caminho do herói... tudo aqui funciona como um jogo."
Toru bufou. "Nossa, que gênio. Nem notei isso."
Renji estalou o pescoço. "Você só olha a superfície, Toru. Para e pensa... se este lugar é realmente como um jogo, deve haver um jeito de ‘zerá-lo’."
"Está dizendo que podemos terminar isso?" perguntou Toru.
"Exato. Deve haver missões, NPCs... talvez até outros jogadores."
"Papo de nerd," resmungou Yui.
Arisa ponderou. "Não entendo muito de jogos, mas vou guardar essa possibilidade. Me explique melhor depois, Renji."
Antes que pudessem continuar, uma rajada de fogo explodiu à frente deles.
O chão tremeu, e um estrondo ecoou pela floresta, seguido por uma rajada de vento quente que sacudiu as árvores ao redor. As folhas secas foram lançadas ao ar, girando em uma tempestade de brasas.
Um turbilhão de chamas se erguia no caminho à frente, consumindo as copas das árvores e iluminando o céu com um brilho alaranjado. Do meio do redemoinho incandescente, uma figura emergiu.
Um dragão colossal, com quatro asas abertas, deslizou para fora das chamas. Sua pele era revestida por escamas carmesim, que pareciam absorver e refletir o fogo ao seu redor. Suas garras cortavam o ar com um assobio, e seus olhos dourados encaravam o grupo, como um predador avaliando sua presa.
Mas o que realmente chamou a atenção do grupo não foi apenas o dragão.
Montado sobre sua nuca, um cavaleiro trajava uma armadura negra, feita das mesmas escamas da criatura. Em sua mão direita empunhava uma lança dourada, que refletia o brilho do incêndio. Mesmo sem dizer nada, sua presença era esmagadora.
O cavaleiro puxou as rédeas da criatura, e o dragão pousou suavemente sobre o solo enegrecido pelo fogo. A força do impacto rachou a terra sob suas patas. A fera então bateu as asas, dissipando parte das chamas e levantando poeira ao redor.
O grupo instintivamente recuou.
"Mas que porra...?" murmurou Toru, cerrando os punhos.
Por um instante, o tempo pareceu congelar.
Renji sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Os estudantes estavam imóveis, como se qualquer movimento abrupto pudesse atrair a atenção daquela figura imponente.
O cavaleiro permaneceu imóvel sobre a fera, como se estivesse os avaliando. Aquele silêncio era sufocante, carregado de um perigo invisível.
O que ele faria a seguir?