Parte 1: O Chamado das Sombras
Eu nunca fui muito boa em seguir regras. Nem mesmo aquelas que eu mesma estabelecia.
Então, quando o velho Grimbolt apareceu à porta da minha torre, na terceira batida insistente, com olhos arregalados e um pergaminho selado, eu já sabia: lá se ia a minha tarde tranquila de estudos sobre poções anti-fadiga.
— Senhora Aethera — disse ele, com aquela voz arranhada de quem já conversou mais com fantasmas do que com gente viva —, há...um pedido do Conselho.
Conselho. A simples palavra me deu coceira. Nada de bom vinha do Conselho de Everston. Só tramas complicadas, joguinhos políticos e, se eu tivesse muita sorte, alguma missão que envolvesse bestas demoníacas com hálito de enxofre. E olhe lá.
Peguei o pergaminho, rasgando o selo dourado com um gesto irritado. As palavras saltaram aos meus olhos, brilhando com um feitiço de urgência.
"Investigação urgente: relatos de distorções mágicas no vilarejo de Brookside. Pedido de intervenção da Maga da Corte."
Eu bufei.
Brookside era famosa por duas coisas: festas a céu aberto e queijo de cabra — nenhum dos dois particularmente ameaçadores. Mas "distorções mágicas" eram outro assunto. Coisas assim não aconteciam sozinhas. Alguém — ou algo — estava brincando com forças que não devia.
— Pegue minhas botas, Grimbolt. E prepare o cavalo. Parece que hoje vai ser interessante.
Enquanto eu arrumava meu grimório, algumas ervas de proteção e o meu velho anel de concentração (o único presente que prestei atenção em toda a minha formação em Solgrim), pensei comigo mesma: "Não confie nos vilarejos que parecem pacíficos demais."
Nunca era só queijo de cabra. Nunca.
E Brookside, aparentemente, ia me provar isso da pior maneira.