Bulma ainda estava de joelhos na lama, encarando o homem como se tivesse encontrado um oásis no meio do deserto. Ela abriu e fechou a boca algumas vezes antes de conseguir dizer qualquer coisa.
Ela abriu a boca para falar, mas nada saiu. Tentou de novo.
— "Você... você é real?" — murmurou, como se duvidasse do que via.
Luther respondeu apenas com um leve sorriso e um discreto aceno de cabeça. Seus olhos brilhavam com calma, mas estavam atentos.
— "Você está ferida?" — perguntou, a voz baixa e firme, como se já soubesse a resposta.
Bulma ainda estava paralisada pelo choque — ou talvez fosse outra coisa — e apenas assentiu, tentando se levantar com um movimento apressado.
— "Ah, sim, sim, eu... haaaa!" — gritou, quando uma fisgada cortante subiu por seu tornozelo.
Ela caiu de volta no chão com um baque, agarrando a perna com as duas mãos.
— "Droga... o que foi isso?!"
Luther deu um passo rápido à frente e se agachou ao lado dela. Com delicadeza, desceu a barra da meia dela para observar o tornozelo inchado.
— "Parece que está torcido" — disse, com um tom neutro, mas firme, como quem já havia lidado com isso antes.
Bulma finalmente registrou a dor, que agora latejava como se o pé estivesse pegando fogo. Ela cerrou os dentes, frustrada.
— "Isso vai me deixar mancando por muito tempo?" — perguntou, tentando manter a compostura enquanto o observava mexer cuidadosamente em seu tornozelo.
— "Não, com descanso e uma imobilização leve, você vai se recuperar rápido."
Ela assentiu, tentando ignorar a dor que pulsava como um alarme. Mas então, seu olhar finalmente se desviou — não para o tornozelo, nem para Luther — mas para trás dele.
O cadáver colossal do dinossauro jazia no chão, a cabeça separada do corpo com uma precisão absurda. Os olhos de Bulma se arregalaram.
— "Espera..." — finalmente processando as informações, ela apontou com o dedo trêmulo. — "Você... você cortou a cabeça daquele bicho?"
Luther olhou por cima do ombro, como se só agora se lembrasse do dinossauro decapitado atrás de si.
— "Ah, sim. Ele estava meio estressado. Até o fiz perder a cabeça, ô coitado."
Bulma piscou algumas vezes, atordoada.
*Como alguém pode falar isso tão naturalmente?* Ela mal conseguia raciocinar. O bicho era do tamanho de um ônibus, e ele... — "Você tá de brincadeira comigo... aquilo é um dinossauro! Não um guaxinim raivoso!"
— "Guaxinins raivosos são mais perigosos, acredita?" — disse ele, levantando um dedo como se fosse dar uma palestra. — "Eles são pequenos, astutos e têm sede de caos. Já vi um roubar um sanduíche, uma carteira e a dignidade de um homem... tudo em menos de trinta segundos."
Bulma piscou, confusa.
— "Como assim dignidade?"
— "Ele chorou no meio da praça. Em posição fetal. Até hoje ninguém fala sobre o caso."
— "Você tá inventando isso."
— "A verdade assusta, mulher. A verdade assusta."
Ela o encarou, tentando decidir se estava conversando com um psicopata ou com um comediante.
*Ele é estranho... mas meio fofo também. Argh, Bulma, foco! Ele decapitou um dinossauro!*
— "Você tá levando isso na maior tranquilidade, e eu ainda tô tentando entender como você ainda tá vivo depois de enfrentar um bicho que me faria virar lanche em três mordidas!"
— "Três?" — Luther franziu a testa, pensativo. — "Você parece mais um lanchinho de duas, no máximo. Mas é bom saber que tem fé na sua densidade óssea."
— "Tá brincando comigo? Você está me chamando de aperitivo!"
— "Não, não, palavras suas" — ele ergueu as mãos como quem se defendia, sorrindo com aquele ar provocador. — "Só se começa a falar de aperitivo depois do terceiro encontro."
Bulma ficou vermelha instantaneamente.
Ela desviou o olhar, tentando parecer indignada, mas seu rosto queimava. Ele era completamente maluco... e ao mesmo tempo, estava começando a achar esse jeito maluco perigosamente atraente.
*Concentra, Bulma! Foco na sobrevivência! Não nos ombros largos, nem no sorriso torto, nem naquele maldito cabelo bagunçado que parece saído de um drama romântico de ação...*
Ela abriu a boca para retrucar, mas foi interrompida quando Luther se abaixou na frente dela.
— "Certo, hora do resgate fase dois."
— "Do quê?"
Antes que ela pudesse reagir, ele a pegou no colo com uma facilidade absurda. Como se ela pesasse menos que uma mochila.
— "Hey! Eu posso andar sozinha, sabia?!"
— "Com esse pé? Talvez com uma perna de pau e muita esperança" — respondeu ele, já caminhando pela trilha de lama. — "Mas, infelizmente, não trouxe madeira e meu estoque de esperança tá em baixa hoje."
Bulma enfiou o rosto nas mãos por um segundo.
*Isso tá mesmo acontecendo? Eu estou no colo de um homem que decapitou um dinossauro e faz piadas ruins enquanto me carrega como se fosse a heroína desastrada de um anime de romance.*
Ela espiou discretamente o rosto dele. Luther parecia completamente tranquilo, focado na trilha, os braços firmes, o olhar calmo. E mesmo assim... havia algo de selvagem escondido por trás daquela tranquilidade. Algo que dava frio na barriga. Ou talvez fosse só a proximidade. Ou os músculos. Provavelmente os músculos.
— "Você sempre age assim com donzelas em perigo?" — ela perguntou, com o tom mais sarcástico e envergonhado que conseguiu reunir.
— "Só quando são donzelas de cabelo azul" — ele respondeu sem hesitar, com um meio sorriso.
Ela bufou, mas uma risadinha escapou, traindo o bom humor que ela fingia não sentir.
— "Você é um completo esquisito..."
— "Você já disse isso."
— "Mas é verdade. Ninguém normal corta a cabeça de um dinossauro e depois faz piada sobre guaxinins ladrões de sanduíche."
Luther fingiu refletir por um segundo.
— "Tem razão. Sou um pouquinho acima da média. Mas me chame de 'exótico', soa mais chique."
Ela riu de novo, e depois se calou, observando-o em silêncio enquanto ele seguia em frente.
Depois de alguns minutos com os dois em silêncio.
— "Quem é você, afinal? De onde você veio? Como... como alguém como você existe?"
Luther olhou para ela de relance e continuou andando na mata.
— "Digamos que... eu não sou exatamente o que você está acostumada a encontrar por aí. E talvez você também não seja."
— "Como assim?" — inclinando a cabeça como questionamento.
Ele olha e se aproxima do rosto dela — "Bem, vamos dizer que não se acha todo dia uma beleza como você."
Bulma sentiu o rosto pegar fogo. Literalmente. Se fosse medir a temperatura da vergonha naquele momento, estaria rivalizando com o núcleo do sol.
— "Você... você tá flertando comigo enquanto me carrega no colo por uma floresta cheia de monstros?!" — ela perguntou, a voz num misto de choque, indignação e uma pontinha de... animação?
— "Eu gosto de otimizar meu tempo" — ele respondeu, com um olhar de canto que quase parecia um desafio. — "Resgatar a donzela, manter a conversa animada, elogiar... tudo em uma viagem só."
— "Você é impossível."
— "Prefiro 'eficiente'."
Bulma apertou os lábios, tentando esconder o sorriso. Não estava funcionando muito bem.
— "Você devia estar me explicando quem é, e por que estava rondando essa floresta como um personagem secreto que aparece só pra salvar a protagonista..."
— "Spoilers" — ele sussurrou, misterioso. — "Talvez eu ainda seja o vilão."
— "Hm, não sei... vilões normalmente não têm esse cheiro bom."
Luther arqueou uma sobrancelha, genuinamente surpreso — e divertido.
— "Você andou cheirando meu pescoço e eu que sou o esquisito?"
— "Eu não! — Quer dizer, eu tava perto, e... ugh, esquece!"
Ela escondeu o rosto no peito dele, resmungando algo ininteligível. O coração batia rápido demais para ser só por causa do susto. Ou da dor. Ou da adrenalina. Era ele. Aquele maldito homem impossível com olhos calmos e piadas ruins.
Ela suspirou, derrotada.
— "Você é insuportável."
— "E você está sorrindo.”
***
Depois de mais alguns minutos de caminhada, em que o único som era o farfalhar das folhas e o ocasional resmungo indignado de Bulma, Luther finalmente parou diante de uma construção rústica de madeira, meio escondida entre as árvores. Uma cabana simples, mas bem cuidada — com uma pequena varanda, janelas de vidro grosso e até uma pilha de lenha ao lado da porta.
— "Bem-vinda à minha humilde residência de protagonista misterioso," — disse ele, empurrando a porta com o ombro enquanto ainda a carregava.
— “Você tem uma cabana no meio do nada?” — Bulma ergueu uma sobrancelha. — “Você é um lenhador agora também?”
— “Não. Lenhadores cortam árvores. Eu corto dinossauros e corações.” — disse ele, piscando para ela antes de colocá-la com delicadeza no sofá, como se fosse feita de porcelana.
Com cuidado, Luther a depositou no sofá, cujas molas protestaram com um rangido. Ele ajeitou uma almofada sob seu pé machucado antes de se afastar.
— "Fique parada. Vou pegar algo para dar um jeito nisso."
Ela soltou um suspiro involuntário ao afundar nas almofadas macias, finalmente podendo esticar o pé machucado. Mas antes que pudesse agradecer ou soltar outro comentário sarcástico, algo na mesinha de centro capturou sua atenção.
Seus olhos se arregalaram. Ali, descansando tranquilamente ao
lado de uma caneca com chá ainda fumegante... estava uma esfera alaranjada translúcida, do tamanho de uma bola de beisebol.
Com cinco estrelas brilhando dentro dela.