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Chapter 37 - Capítulo 37: A Missão pelo Vilarejo Esquecido

A manhã se anunciava com uma névoa tênue cobrindo os telhados da vila e as primeiras luzes do sol tingindo de dourado o horizonte. Na sede da guilda, um leve burburinho já se espalhava conforme os primeiros aventureiros chegavam para registrar suas conquistas, aceitar novas tarefas ou apenas compartilhar um copo de chá quente com velhos colegas.

Alastor e seu grupo chegaram cedo. Ele, como sempre, trajava sua armadura carmesim dracônica polida, a espada Umbraeternal presa às costas. Ao lado dele, a elegante e ágil Erina — a elfa negra — ajeitava a aljava com flechas de energia mágicas geradas por seu Arco Cipestre. Sorya caminhava de maneira etérea, com seus longos cabelos verde-escuros dançando ao vento, a aura natural demoníaca levemente perceptível para os mais atentos. E, por fim, Azriel, o jovem vampiro de cabelos prateados e olhos elétricos, agora já mais confiante em sua nova classe lendária, Mestre do Trovão Elétrico, observava tudo com um misto de curiosidade e seriedade.

Logo ao adentrar a guilda, notaram algo fora do comum.

No balcão onde Helena, a recepcionista habitual, costumava atender com simpatia, havia uma pequena multidão reunida ao redor de um garoto franzino, de roupas simples, voz trêmula e olhos vermelhos de tanto chorar. Suas mãos apertavam uma bolsa de couro que chacoalhava com o som de moedas.

— “...por favor... é tudo o que conseguimos juntar. Meus pais e os outros estão sendo forçados a trabalhar para os bandidos. Eles tomaram tudo. Só quero que salvem nossa vila...”

Helena tentava acalmá-lo, mas os murmúrios cresciam entre os aventureiros presentes.

— “Sem nem saber quantos são os saqueadores? Pode ser uma armadilha.”

— “Por esse valor? Mal dá pra cobrir as poções que vou gastar.”

— “Não vale o risco.”

Alastor observou em silêncio, os olhos fixos no menino. Então, lentamente, avançou pelo salão até parar ao lado do garoto. A voz dele, baixa e firme, cortou os sussurros ao redor:

— Nós vamos aceitar a missão.

O silêncio se instaurou. O garoto olhou para cima, surpreso, enxugando o rosto com as mangas esfarrapadas.

— S-sério...? V-você vai...?

— Sim. — Alastor respondeu. — O que está acontecendo nessa vila não pode ser ignorado só por causa do valor da recompensa.

Erina sorriu de canto. Sorya assentiu calmamente. Azriel deu um passo à frente, cerrando o punho.

— Esses bandidos vão se arrepender.

Enquanto Helena registrava oficialmente a missão como “Classe Especial" (um tipo raro de missões que são atribuídas para missões cujas informações são poucas ou as condições para completar são muito complexas), o grupo preparou-se para partir imediatamente. O garoto, que se apresentou como Rudin, explicou que sua vila chamava-se Vallon, situada a cerca de dois dias de caminhada para o leste, atravessando pradarias abertas e um trecho de floresta densa.

— Dois dias? — Alastor murmurou, pensativo. — Vamos encurtar isso.

Ele estendeu a mão para o espaço ao seu lado e, com um comando mental e a ativação da Orbe do Gacha, invocou três de suas montarias:

1. O Corcel Noctívago, um cavalo das sombras com olhos prateados e crina ondulante como fumaça, que já era seu fiel companheiro desde os primeiros dias neste mundo.

2. O Grifo de Vendaval, com asas largas e penas que lembravam nuvens carregadas de vento, perfeito para sobrevoar terrenos difíceis.

3. O Urso Cobalto das Neves, uma criatura massiva de pelagem espessa e patas silenciosas, ideal para carregar cargas e atravessar a floresta com facilidade.

— Montem. Vamos rápido, mas com cautela.

Rudin ficou visivelmente impressionado, mal conseguindo conter seu espanto ao ver as majestosas criaturas invocadas com naturalidade. Alastor o ajudou a montar no Grifo, que apesar de poderoso, se deixava guiar docilmente por sua vontade.

Erina montou atrás de Alastor no Corcel, como de costume, enquanto Sorya escolheu o Urso Cobalto, acariciando sua cabeça com familiaridade, ganhando o afecto e lealdade da criatura.

A primeira metade do caminho correu sem incidentes.

Galopando pelas planícies abertas, deixavam para trás a vila principal como uma mancha em meio ao horizonte, cortando os ventos em silêncio. Rudin contava, com dificuldade, o que lembrava sobre o ataque:

— Eles chegaram à noite, tinham roupas escuras, armaduras de couro e bandeiras vermelhas... com uma caveira pintada. Ninguém pôde resistir. Os caçadores foram mortos ou obrigados a trabalhar para eles... minha irmã... ela foi levada...

A voz do menino falhou, e Sorya estendeu a mão, tocando levemente seu ombro.

— Você fez bem em vir até aqui. Vamos trazê-los de volta. Todos.

Ao cair da tarde, entraram na floresta oriental, uma área conhecida por suas trilhas densas e raízes traiçoeiras. O Urso Cobalto abria o caminho, farejando e empurrando arbustos para os lados com facilidade, enquanto o Grifo saltava entre clareiras. O Corcel Noctívago parecia deslizar entre as sombras, como se aquela paisagem fosse seu lar natural.

Ali enfrentaram o único contratempo da viagem: um pequeno grupo de gatos-lâminas, criaturas felinas com lâminas metálicas nos membros dianteiros e presas metálicas afiadas, que costumam emboscar viajantes em trilhas apertadas.

Azriel, apesar de ainda ser de nível baixo, foi o primeiro a reagir. Conjurou uma de suas novas habilidades, Lança Relampejante, que lançou um raio concentrado contra o primeiro inimigo, desintegrando-o em um flash branco-azulado. Sorya invocou vinhas espinhosas sombrias para prender os dois restantes enquanto Erina os finalizava com disparos rápidos do arco mágico.

— Esses ataques estão ficando mais naturais, estou pegando o jeito. — disse Azriel, orgulhoso.

— Bom trabalho. Mas não baixe a guarda. — Alastor advertiu, mesmo satisfeito com o desempenho do rapaz.

No fim do segundo dia, pouco antes do pôr do sol, avistaram de uma colina a vila de Vallon.

Mas aquilo que viram não era uma vila pacífica.

Torres improvisadas de vigia haviam sido erguidas com madeira rústica. Bandeiras vermelhas com caveiras esvoaçavam sinistramente nos telhados das casas tomadas. Homens armados com espadas, machados e arcos patrulhavam as ruas com brutalidade. Crianças e mulheres eram empurradas, forçadas a carregar baldes ou a limpar áreas enquanto soldados gargalhavam em volta de fogueiras.

— Eles fizeram da vila um covil. — Sorya disse, os olhos semicerrados, cheios de fúria contida.

— A estimativa de número, Rudin? — Alastor perguntou.

— Não sei ao certo, mas ouvi que há pelo menos trinta... talvez quarenta.

Alastor observou por mais alguns segundos, calculando mentalmente.

— Vamos esperar anoitecer. Iremos nos infiltrar, recolher informações e nos preparar para libertar essa vila. Não importa o número. Não vamos recuar.

Rudin apertou as mãos contra o peito, lágrimas discretas escorrendo de novo.

— Obrigado... a todos vocês...

E assim, com o céu escurecendo sobre Vallon, o grupo se preparava para executar um plano que mudaria o destino daquela vila — com sombras, trovões e garras silenciosas.

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