O salão do Wizengamot permanecia sob a mesma atmosfera densa, mas para Magnus Riddle, tudo havia mudado. O nome que ouvira de Narcisa ainda pulsava em sua mente como uma corda vibrando sob tensão. Narcisa. Um nome de estrela. Um eco claro da tradição da família Black, como Phineas Nigellus lhe explicara certa vez, em uma daquelas longas noites silenciosas no Salão Comunal da Sonserina.
Ao retornar para perto de Narcisa, ele se posicionou com a formalidade de um duque antigo. Lucius continuava ao lado, atento e quieto, enquanto Draco mantinha-se recuado, absorvendo tudo com olhos arregalados.
— Senhora Malfoy — disse Magnus, agora em tom mais controlado, embora fosse evidente o peso por trás de cada palavra —, permita-me insistir em uma questão mais pessoal.
Narcisa assentiu com um leve movimento de cabeça.
— O nome que carrega... revela uma origem que me é cara. Conheci um Black, há muito tempo. Um homem de espírito forte e mente afiada. Phineas Nigellus. Ele foi meu mentor, meu guia, minha referência. É... inquietante, para dizer o mínimo, saber que o sangue dele ainda corre nas veias de poucos.
Narcisa pareceu tocar algo dentro de si. Sua expressão suavizou-se, ainda que uma sombra de tristeza tomasse seus olhos.
— Phineas é lembrado em nossa família. Um nome que carrega peso. Mas... muito se perdeu desde os dias dele. — Ela respirou fundo. — A casa Black foi se fragmentando. Antigos valores foram confundidos com orgulho cego. Alianças, casamentos... afastamentos. E agora... o último chefe da casa está em Azkaban.
Magnus não respondeu imediatamente. Seu maxilar se contraíra. Os dedos se apertavam em silêncio sob a manga da capa.
Ele sentia raiva.
Mas não era uma raiva impetuosa. Era profunda, silenciosa, como lava subterrânea. O nome Black fora, em sua juventude, sinônimo de força, de estrutura, de tradição com propósito. E agora? Reduzido a uma linhagem fragmentada, sem herdeiros dignos, com seu chefe enclausurado entre dementadores.
— Como...? — murmurou ele. — Como foi permitido que isso acontecesse?
Lucius respondeu, com cuidado:
— Sirius Black foi acusado de traição, de assassinato em massa, de ter entregado aliados ao inimigo. Foi preso sem julgamento formal. Muitos dizem que foi um erro. Outros afirmam que era inevitável.
Magnus fitou Lucius por um longo instante, como quem avalia uma taça que pode conter veneno.
— E o senhor? — perguntou. — O que acredita?
Lucius vacilou por um segundo, imperceptível para muitos, mas claro para Magnus.
— Eu acredito que verdades se perdem quando há pressa para encontrar culpados. À época, todos queriam vingança. E a família Black... já estava enfraquecida o suficiente para não contestar.
Magnus virou novamente os olhos para Narcisa.
— Você o conhecia bem? Sirius?
Ela hesitou antes de responder:
— Quando crianças, sim. Depois... não mais. Ele se afastou da família. Rejeitou os costumes, rompeu os laços. Era... impulsivo. Mas não assassino. Não acredito que fosse.
O coração de Magnus pesava. Ele esperava que os Black estivessem de pé, prontos para apoiá-lo em suas futuras ações. Esperava ver a casa de Phineas como um bastião de tradição e ordem. Agora, via apenas ruínas sociais e políticas.
Sua mente se acelerava.
Ainda precisava descobrir o paradeiro de antigos amigos. Investigar a suposta abertura da Câmara Secreta nos anos 40. Compreender quem era esse "Tom Riddle" que surgira em seu tempo de ausência. E agora, mais esse peso: reconstituir a família Black.
Ele não podia permitir que o legado de Phineas Nigellus desaparecesse em silêncio. Não podia permitir que nomes se apagassem por covardia ou descuido.
— Você tem contato com mais alguém da linhagem Black? — perguntou, contido.
Narcisa fez que não com a cabeça.
— Poucos restam. Minha irmã está afastada. A outra... bem, não vale a pena mencionar. Os velhos estão mortos. Os jovens se dispersaram. O nome ainda existe, mas a casa, não.
Magnus cerrou os punhos.
Não disse mais nada. Mas em sua mente, as decisões começavam a se formar.
Ele buscaria os retratos. Interrogaria Phineas. Vasculharia arquivos. Procuraria aliados. Traçaria planos.
E salvaria os Black, mesmo que tivessem se esquecido de como salvar a si mesmos.
Narcisa o observava em silêncio. Havia algo naquele homem que não se via nos outros. Um peso antigo. Uma honra que não se exibia, mas se impunha. Ela sabia, com a intuição silenciosa dos que vivem entre feras polidas, que Magnus Riddle não permitiria que as trevas consumissem o que considerava seu.
Ele inclinou a cabeça levemente, em respeito final.
— Agradeço sua honestidade, senhora Malfoy. Às vezes, as respostas mais duras são também as mais necessárias.
Narcisa apenas assentiu.
Magnus virou-se, afastando-se em silêncio.
Enquanto caminhava entre os pilares ancestrais do salão, com as tochas verdes projetando sua sombra longa nas pedras, seu pensamento era um só:
"A família Black jamais será apagada enquanto eu respirasse."
E assim, com a decisão em seu coração, Magnus Riddle deixou para trás não apenas uma conversa, mas o início de um novo caminho. Um caminho que o levaria a desafiar não apenas as forças externas, mas o tempo, a história e a própria máquina que esmagava legados sob o peso da indiferença.
O céu dos Black voltaria a brilhar.
E ele seria a centelha.
Ele se afastou dos Malfoy com passos lentos e firmes, mas seu coração estava agitado, o sangue correndo com mais calor do que de costume. A confirmação de que Narcisa pertencia à linhagem Black havia acendido não apenas uma lembrança, mas um incômodo ardente.
E Magnus sabia que, se estivesse ali, o velho diretor Phineas franziria o cenho diante do que restara de sua família.